Os portugueses em geral conhecem Jô Soares desde 1978, quando a RTP estreou “O Planeta dos Homens”, um sketch show da Rede Globo que durou de 1976 a 1982 – aquele em que uma personagem interpretada por Agildo Ribeiro era obcecada pela atriz Bruna Lombardi ou em que Jô repetia “cala a boca, Batista” noutros dos quadros e em cujo genérico víamos uma bela mulher (desculpem a expressão, estou a escrever com pressa) a sair de uma banana descascada por um macaco.
A vida do espectador nacional foi facilitada pelo treino de ter assistido (como diriam no Brasil) a “Gabriela”, o folhetim (hoje diz-se telenovela) que a RTP estreou em maio de 1977. O brasileiro entrou por Portugal adentro e – digo eu – pode muito bem ter sido um dos neutralizadores de refregas políticas locais que podemos imaginar quais fossem.
O êxito de “Gabriela” fez com que muitas famílias se decidissem finalmente a comprar o seu próprio televisor para ver a novela em casa, em vez de ir para o café ou a casa de amigos. Em vez de presuntivas conspirações, preferiu-se a imaginação de Jorge Amado, as curvas e sensualidade (desculpem de novo) de Sónia Braga e demais enredos em Ilhéus.
O engraçado é que “Gabriela” chega a Portugal com um brisa política bastante acentuada. A ideia até podia ser entreter, mas também doutrinar. Apresentada numa festa no salão nobre do Ritz, Jorge Amado era a atração principal desse momento da televisão nacional, até porque não se fazia ideia se os portugueses iriam aderir ao género. Talvez sim, talvez não.