Cultura

Morreu a pianista Tania Achot

Pianista e professora é recordada como “uma das pessoas que mais contribuiu para a renovação do ensino do piano em Portugal nos anos 80 e 90”

Morreu esta quinta-feira a pianista de origem e formação russa Tania Achot. A artista e professora de piano vivia em Portugal desde os anos 1960. Tinha 85 anos.

“A Tania era uma personalidade fantástica e fortíssima. Foi uma das pessoas que mais contribuiu para a renovação do ensino do piano em Portugal nos anos 80 e 90”, recorda o pianista Nuno Vieira de Almeida.

Tania Achot nasceu em Teerão em 1937. Filha de pai arménio e mãe russa emigrados no Irão, começou a aprender piano com a tia e aos 14 anos mudou-se para Paris com a mãe para continuar a sua educação musical.

Em 1955, participou pela pela primeira vez no Concurso Internacional de Piano Frédéric Chopin (em Varsóvia), que numa entrevista à RTP2 considerou “o ponto crucial dos concursos” da sua vida. Foi neste concurso que teve contacto pela primeira vez com a escola russa, mudando-se para Moscovo em 1957 para estudar no Conservatório.

Voltou a Paris em 1959 e no ano seguinte ficou em 3º lugar no prestigiado concurso polaco, na mesma edição em que foi distinguido Maurizio Pollini. Foi igualmente laureada em vários outros concursos internacionais como Genebra, Munique e Marguerite Long.

“A Tania era uma pessoa que trabalhava intensamente na sua técnica e na sua maneira de olhar para a música. Era uma pianista de grande fogosidade, mas isso não a impedia de fazer um trabalho extremamente inteligente sobre a partitura que estava a estudar. Não ia para ali só dar mostras do seu talento ou do seu lirismo”, afirma Nuno Vieira Almeida.

Tania Achot casou com o português e também pianista Sequeira Costa, que tinha conhecido durante a passagem por Moscovo. Da união nasceram duas filhas.

O casal mudou-se para Portugal no início da década de 1960, tendo estado envolvido na organização de vários recitais. Durante a década de 1980, os dois pianistas formaram também um grupo de alunos a quem davam aulas num estúdio no edifício Castilho, em Lisboa, e por onde passaram nomes que viriam a tornar-se pianistas profissionais de reputação, como Paulo Santiago e Carla Seixas.

Conhecida voz crítica do ensino praticado no antigo Conservatório Nacional, foi defensora da sua reforma e viria a tornar-se professora na Escola Superior de Música de Lisboa, após a reconversão desta instituição. 

“Toda essa espécie de renovação de uma maneira de olhar para o ensino do piano e para a música em particular foram da responsabilidade da Tania. Isso dá-lhe uma importância enorme como pedagoga sem retirar obviamente a importância que ela tem como pianista em primeiro plano em qualquer parte do mundo”, recorda o também ex-aluno Nuno Vieira de Almeida. “Foi responsável por muitas obras que não eram nunca dadas em Portugal.