Com o Leão de Ouro para o filme francês “L’Événement” realizado por Audrey Diwan e centrado numa estudante pré-universitária que se descobre acidentalmente grávida num tempo em que, em França, o aborto era um crime, o júri de Veneza, presidido pelo coreano Bong Joon Ho e deliberando por unanimidade, quis, definitivamente, ligar o 78° Festival de Cinema de Veneza à condição feminina.
Outros prémios fixados no palmarés confirmaram a tendência - o Leão de Prata, para a Melhor Realização para Jane Campion (por “The Power of the Dog”) e a Osella de Ouro para o Melhor Argumento a Maggie Gyllenhaal, por “The Lost Daughter” adaptação de um livro de Elena Ferrante (que é da condição feminina que trata - a maternidade como vocação ou como fardo).
Este foco é de tal forma dominante no elenco dos prémios que se pode dizer que quase torna secundários os restantes (o Grande Prémio do Júri para “È Stata la Mano di Dio”, de Paolo Sorrentino - que garantiu ao seu jovem protagonista, Filippo Scotti, o prémio Marcello Mastroianni para um ator emergente; o Prémio Especial do Júri para “Il Bucco”, de Michelangelo Frammartino com que se completou o reconhecimento para o cinema italiano).
No campo dos atores, a Coppa Volpi feminina foi para Penélope Cruz (pelo seu trabalho, fulgurante, em “Madres Paralelas”, de Almodóvar) enquanto a masculina acabou entregue a Oriente (este ano pouco representado na competição): John Arcilla , em “On the Job: The Missing 8”, de Erik Matti. Ignorados pelo júri ficaram os dois filmes mais marcantes desta Mostra Internazionale d’Arte Cinematografica, “The Card Counter” de Paul Schrader e “Qui Rido Io” de Mario Martone.
Mas, já se sabe, nestas coisas de premiações, nunca se pode agradar a todos.