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Julian Barnes. A inteligência e a ironia

Anatomia de uma época, a França de finais do século XIX e inícios do XX, “O Homem do Casaco Vermelho” oscila entre o romance, o ensaio histórico e a biografia

Nascido em 1946, em Leicester, Julian Barnes já ganhou o Booker Prize com “O Sentido do Fim”, um dos seus 14 romances. Escreveu também obras de não-ficção e quatro novelas sob o pseudónimo de Dan Kavanagh
Roberto Ricciuti/Getty Images

Numa nota final, Julian Barnes explica como a escrita deste livro serviu de antídoto para a decisão “masoquista” que foi o ‘Brexit’. Vinha-lhe à cabeça uma frase do personagem principal que falava do chauvinismo como ignorância, e o tempo passado na época “distante, decadente, frenética, violenta, narcisista e neurótica” de que o livro se ocupa dava-lhe boa disposição. Essa época, retrospetivamente batizada de Belle Époque, é o período de França entre a parte final do século XIX e a I Guerra Mundial. Barnes já tinha explorado a sua obsessão francófila em obras anteriores — desde logo, naquela que lhe deu reputação internacional, “O Papagaio de Flaubert” —, mas a ligação a França adquire aqui uma urgência especial. O pretexto, ou rastilho, foi uma obra de arte.

O homem a quem o título se refere é Samuel Jean Pozzi (1846-1918), um famoso médico francês. O livro começou quando Barnes viu pela primeira vez Pozzi, ou mais precisamente o seu retrato, pintado por John Singer Sargent, numa exposição da National Gallery, em 2015. Emprestado pelo museu Armand Hammer, de Los Angeles, o quadro causou-lhe uma impressão instantânea, e Barnes rapidamente descobriu que, apesar do seu fascínio pela Belle Époque, ignorava por completo a existência de uma figura essencial dessa altura. Sendo hoje largamente desconhecido da generalidade das pessoas (após este livro, deverá passar a sê-lo um pouco menos), Pozzi teve importância na história da medicina e na sociedade do seu tempo.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.