Três horas após a projeção do novo filme de Dominik Graf, que é de fôlego, candidato sério ao Urso de Ouro, ficou a pena de nunca ter lido “Fabian – A História de um Moralista”, obra, tanto quanto se sabe uma das maiores, do alemão Erich Kästner. É assunto para resolver mal esta Berlinale acabe, desconheço se há dele edição portuguesa. Kästner (1899-1974) celebrizou-se pelos seus livros infantis e juvenis, um deles é “Emílio os Detectives”. Mas poucos o conhecem de “Fabian...” (que ganhou o subtítulo “Going to the Dogs” na versão inglesa) e desse romance de 1931 escrito em plena República de Weimar, obra premonitória - tal como o “Berlin Alexanderplatz” que Alfred Döblin publicou dois anos antes – dos tempos sombrios que estavam a chegar à Alemanha e ao resto do mundo com a escalada do Nacional-Socialismo. É uma crítica desesperada do seu tempo, espelho de um declínio moral e intelectual em que o herói se move.
O protagonista que dá o nome ao título é homem de letras, filho de uma pequena burguesia de Dresden, sobrevive à míngua como jornalista publicitário na caótica Berlim de 1931, recheada de toda a espécie de vícios e rufias (Frtiz Lang costumava falar deles e dessa capital eufórica nas suas entrevistas). Fabian frequenta casas de alterne com uma aura de dandy, escreve maravilhosamente mas a pluma ainda não lhe foi reconhecida. Ampara-o o amigo Stephan (Albrecht Schuch), que é muito mais rico do que ele mas partilha o mesmo labirinto sem esperança. E Hitler está prestes a chegar ao poder.