É preciso chegar perto do buraco na parede para perceber que não foi a ilusão de ótica dos sprays de Mr. Dheo que o colocaram ali. Já lá estava, pronto a ser capturado pela imaginação do artista, numa parede maltratada. Bastava trazer para ali Sofia, a enfermeira, e um bastão, para o transformar no início da destruição da pandemia que vivemos.
Mr. Dheo saiu um dia do confinamento para pintar, num quase grito por liberdade. O trabalho foi parar aos ecrãs de todo o mundo e fez muitos procurarem nos mapas digitais os caminhos complexos para o verem também pessoalmente (só enquanto gravamos a entrevista, foram mais de cinco os visitantes). Em 20 anos de carreira, para quem já levou as tintas à faixa de Gaza e já acumulou duas menções no livro de recordes do Guiness, quase custa acreditar que uma história tão feliz pudesse algum dia começar numa fábrica abandonada em Arcozelo, em Vila Nova de Gaia.