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De uma fábrica abandonada em Arcozelo para a capa do “Financial Times”. Mr. Dheo em entrevista

À primeira vista, o mais recente trabalho do criador de arte urbana Mr. Dheo é uma homenagem aos profissionais de saúde. Mas tê-lo partilhado no dia do início da greve dos enfermeiros não foi em vão. Ainda assim foi sem contar que “Anjos na terra” se transformou naquela que é talvez a sua obra mais partilhada de sempre, desde as redes sociais, onde tudo sempre agora começa, a noticiários de televisões internacionais e ao papel de jornais como o “El Pais” ou o “Financial Times”

"Anjos na Terra" é a mais recente obra do artista de arte urbana Mr. Dheo.
RUI DUARTE SILVA

É preciso chegar perto do buraco na parede para perceber que não foi a ilusão de ótica dos sprays de Mr. Dheo que o colocaram ali. Já lá estava, pronto a ser capturado pela imaginação do artista, numa parede maltratada. Bastava trazer para ali Sofia, a enfermeira, e um bastão, para o transformar no início da destruição da pandemia que vivemos.

Mr. Dheo saiu um dia do confinamento para pintar, num quase grito por liberdade. O trabalho foi parar aos ecrãs de todo o mundo e fez muitos procurarem nos mapas digitais os caminhos complexos para o verem também pessoalmente (só enquanto gravamos a entrevista, foram mais de cinco os visitantes). Em 20 anos de carreira, para quem já levou as tintas à faixa de Gaza e já acumulou duas menções no livro de recordes do Guiness, quase custa acreditar que uma história tão feliz pudesse algum dia começar numa fábrica abandonada em Arcozelo, em Vila Nova de Gaia.