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Esperámos 57 anos por este Bob Dylan

‘Murder Most Foul’ é um dilúvio de palavras e música cujo gatilho narrativo é o dia em que JFK foi morto

À meia-noite de 27 de março, sem aviso, oito anos após “Tempest”, Bob Dylan editou ‘Murder Most Foul’, uma canção de 17 minutos
William Claxton

John F. Kennedy visitou Duluth, no Minnesota, três vezes. Duas durante a campanha para a sua eleição como Presidente dos EUA, em 1960, e outra, em setembro de 1963, dois meses antes de ser assassinado em Dallas, no Texas. A propósito da segunda visita, a 2 de outubro de 1960, em “Chronicles: Volume One”, Bob Dylan escreve: “A minha mãe contava que 18 mil pessoas tinham comparecido para o ver no Veterans Memorial Building, umas na rua, outras trepando aos postes, e que Kennedy era um raio de luz e compreendia perfeitamente a região onde se encontrava. Proferiu um discurso heroico, dizia ela, e trouxe uma esperança enorme a muita gente. A Iron Range era uma área à qual muito poucos políticos de projeção nacional ou gente famosa se arriscavam a ir... fora eu tipo de votar em eleições, teria votado em Kennedy apenas por ele ter ido lá. Gostava de poder tê-lo visto.” Quando JFK foi morto, a 22 de novembro de 1963, Dylan tinha 22 anos e acabara de gravar “The Times They Are a-Changin’”, o terceiro álbum, que publicaria dois meses mais tarde. Segundo o seu biógrafo, Anthony Scaduto, no dia a seguir ao assassínio, Bob tinha um concerto marcado em Ithaca ou Buffalo: “Havia uma atmosfera realmente depressiva. Mas não podia cancelar, tinha de subir ao palco. Para minha grande surpresa, a sala estava cheia. A canção de abertura era ‘The Times They Are a-Changin’’ e pensei: ‘Como vou eu ser capaz de a cantar com palavras como ‘there’s a battle outside and it’s ragin’, it’ll soon shake your windows and rattle your walls’? Mas tinha de a cantar, todo o concerto partia dali.” A reação do público não poderia ter sido mais surpreendente: “Qualquer coisa tinha virado o país do avesso, e aplaudiram-na entusiasticamente. Não percebia porque batiam palmas nem percebia porque a tinha escrito. Não compreendia nada. Para mim, era tudo uma loucura.” Quando regressou a Greenwich Village, ele e a namorada, Suze Rotolo, como quase toda a gente na América, durante o fim de semana e na segunda-feira do funeral, não tiraram os olhos da tragédia que passava na televisão: “A morte de Oswald, o funeral, as repetições contínuas da morte de Kennedy, a confirmação do novo Presidente, a recusa da viúva em tirar o vestido ensanguentado para que o mundo pudesse ver o sangue do marido.” Dylan pouco falou. Bebeu um pouco de vinho e escutou o “Requiem” de Berlioz uma e outra vez. Mas nunca escreveu uma canção sobre esse funesto momento histórico.

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