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O livro-furacão, o livro-vendaval. Os cadernos perfeitos de Rui Manuel Amaral

Editada no final de 2019, a estreia de Rui Manuel Amaral na narrativa longa é um dos exemplos mais entusiasmantes do que a ficção contemporânea pode ser

Além de ficcionista, Rui Manuel Amaral é também tradutor e editor

Logo a abrir o seu primeiro livro, “Caravana” (Angelus Novus, 2008), Rui Manuel Amaral sugeria que a literatura é “uma macieira que dá laranjas”. Ou seja, algo que interrompe, inverte ou desvia a ordem natural das coisas. Quem preferir macieiras que dão mesmo maçãs, ou laranjas que só vêm dos laranjais, tem muito por onde escolher no supermercado da ficção contemporânea. Ao novo escritor interessava experimentar outras coisas: a disrupção dos modelos lógicos tradicionais, a sabotagem dos códigos narrativos, o curto-circuito nas expectativas de quem lê. É justamente isso que acontece tanto nas micronarrativas de “Caravana” como nas que reuniu, dois anos mais tarde, em “Doutor Avalanche” (mesma editora). Nesse segundo livro havia histórias sem final, outras que não chegavam a começar, outras ainda que se autodestruíam. E o narrador assumia a prerrogativa de fazer o que muito bem lhe apetecesse: “Esperavam talvez que, de repente, alguma coisa conduzisse a história numa direção totalmente diversa? Que irrompesse de algum lado um grão de areia, uma pedra, um vidrinho afiado que colocasse um ponto final em tanta felicidade? Compreendo. Mas não.”

A última história de “Doutor Avalanche” era sobre “um escritor que não consegue escrever”, embora esteja “caído de amores, como se costuma dizer, por uma folha em branco”. É essa, nem mais nem menos, a condição de Bernfried Järvi, o protagonista e narrador do terceiro livro de Rui Manuel Amaral, desta vez uma narrativa bastante extensa (em termos formais, pode considerar-se um romance), mas que prolonga as atmosferas, os princípios e os recursos estilísticos das obras anteriores. Voltamos a encontrar personagens com nomes estrangeiros rebuscados, toda uma fauna de gente bizarra que passa o tempo nos cafés, a beber cerveja e a inventar formas de iludir a solidão, eternamente à espera de alguma coisa “extraordinária ou desconhecida” que ninguém sabe ao certo o que é.

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