No dia em que Maria Helena Santos abriu a caixa de correio eletrónico e leu um email de Carlos Serra, a psicóloga social e investigadora em questões de género ficou “contente e supreendida: Não conhecia e ainda não conheço [presencialmente] o professor Carlos Serra, da Universidade Eduardo Mondlane. Ele viu o meu curriculo e desafiou-me a participar num livro de uma coleção que ele dirige sobre feminismo”.
Carlos Serra descobriu Maria Helena porque a investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Social do Instituto Universitário de Lisboa já tinha publicado, entre outros trabalhos, a obra “Participação Política de Mulheres em Portugal: um contributo para o debate do Objetivo do Desenvolvimento do Milénio” em 2012, e “Do défice de cidadania à paridade política” em 2011.
O seu texto “Da Origem do Feminismo ao Feminismo Plural, do Mundo a Portugal” , é um dos quatro que dão corpo ao livro coordenado por Carlos Serra, agora publicado na coleção Cadernos de Ciências Sociais da Escolar Editora.
Este texto surge como um desafio que obriga Maria Helena a rever e repensar a história do movimento feminista internacional e em Portugal.
“Se inicialmente as reinvindicações se prendiam sobretudo com as questões dos direitos humanos das mulheres e de cidadania mais básicos, as últimas décadas do século XX ficaram marcadas por uma espécie de ‘revolução feminista’, para a qual contribuiu o feminismo institucional à escala internacional”.
Masculinismo versus feminismo
Na introdução ao livro “O que é o feminismo?”, Carlos Serra coloca esta “pergunta: são os homens que se constroem como homens, são eles os únicos autores da masculinidade e do masculinismo, apenas eles?”
A resposta é “não. Porque quer a masculinidade enquanto conjunto de práticas, quer o masculinismo enquanto ideologia justificadora, são também produto das mulheres, da feminilidade e do feminismo”.
As outras três autoras que colaboram neste projeto lusófono são a guineense Patrícia Gomes e as brasileiras Debora Diniz e Rosália Diogo. O texto de Patrícia faz a história do movimento feminino na Guiné-Bissau, e analisa o contributo dado pelas mulheres na guerra colonial e nos anos mais duros da vida do PAIGC.
Patrícia elenca as conquistas das mulheres no plano político, mas deixa de fora a questão da mutilação genital feminina que tem uma expressão significativa no seu país.
“Feminismo: modos de ver e mover-se”, é o título do trabalho de Debora Diniz que começa por afirmar que “o feminismo é feito de palavras e gestos. Sempre no plural quanto às formas, por isso o correto seria falar em feminismos de textos e movimentos”.
O último texto do livro é de Rosália Diogo, que também defende o “conceito de feminismos”. Intitulado “Negros Feminismos”, Rosália revisita a literatura que aborda o “universo das mulheres brasileiras e moçambicana e das sociedades em que elas vivem”. Retrato de um livro com uma abordagem teórica dos diversos feminismos. Em português de vários sotaques.