Há quem suba a Montanha do Pico, nos Açores, por ser “moda”, outros pelo desafio ou a beleza natural do percurso. Há quem o faça motivado por uma promessa e, conta o guia Francisco Medeiros, até para pedidos casamento no ponto mais alto de Portugal, a 2351 metros de altitude.
“Havia toda uma carga emotiva. Numa das situações, já na subida ao Piquinho, o rapaz percebeu que se tinha esquecido do anel dentro da mochila que ficara na cratera. Inventei que ele tinha descido para ir buscar um chocolate, por estar cheio de fome, mas foi buscar o anel”, recorda, o responsável pela Piconature (Tel. 964298237), que organiza subidas ao Pico.
Quando se alcança a meta, ou seja o Piquinho, o ponto mais alto da montanha, as pessoas costumam ficar “muito felizes”, mas é preciso ter a noção de que o percurso “é difícil”. “Em menos de 4 km há um desnível de mais de 1 km. Tem partes bastante inclinadas e se as pessoas não estiverem bastante preparadas fisicamente, pode ser impeditivo”, adverte o experiente guia de montanha. A subida requer um registo prévio na Casa da Montanha (Tel. 967303519), que serve de base a esta atividade, com regras definidas no Regulamento de Acesso à Montanha do Pico.
O apoio de guias credenciados é fundamental para a segurança e sucesso da empreitada, que decorre apenas entre maio e setembro. O valor médio da subida com guia é de €80. A Casa da Montanha, além de todo o apoio e informações, dispõe de um bar panorâmico, que justifica uma paragem, mesmo quando as nuvens teimam em não abandonar a montanha.
A empresa Piconature realiza subidas diurnas, que começam o mais cedo possível (pelas 6h00 ou 6h30) e também noturnas, em que se parte de madrugada, com lanternas e bastões, e se assiste ao nascer do sol. Embora esta empresa não o faça, há operadores, como a Pico Me Up (Tel. 968714701), que realizam, ainda, subidas com pernoita em tenda dentro da cratera (desde €200). Permitem ver o pôr e o nascer do sol, mas implicam também um esforço “muito maior” para carregar o equipamento e muito mais horas no terreno.
A experiência tem uma duração média total de oito horas, com pernoita a dividir o tempo, entre a subida e a descida. “Na subida, chegando à cratera, montamos as tendas e em seguida assistimos o pôr-do-sol a partir da cratera ou piquinho, jantamos todos juntos sob as estrelas em grupo para depois irem descansar para as tendas”, explica a empresa, acrescentando: “Depois de ver o nascer do sol retornamos até ao nosso acampamento na cratera para tomarmos o pequeno almoço, desmontarmos as tendas, arrumarmos tudo dentro das mochilas e começarmos a descida”.
São feitas diversas paragens onde pode descansar, como na furna-abrigo. Convém ir hidratando, entre o impulso para a fotografia. Atente aos detalhes da paisagem, como os gases libertados nas fumarolas, indicando que este é um vulcão apenas adormecido.
Natural do Pico, Francisco Medeiros subiu pela primeira vez em criança, com o pai, e ficou “apaixonado pela montanha”. “Vi plantinhas com flores, borboletas, uma quantidade de vida que não fazia ideia. E fui bafejado pela sorte por conseguir ver as cinco ilhas do grupo central”, recorda.
“As vistas são de cortar a respiração e o nascer do sol é lindíssimo, a luz e as nuvens nunca estão iguais. É mágico e mesmo quando não temos vista pode ser muito bonito, dependendo da sensibilidade e do olho de cada um”, acrescenta.