O discurso sai pausado e bem articulado, segurança que espelha o sucesso da gastronomia da chef Aurora Goy, de 34 anos. Francesa de origem, com mãe portuguesa, sempre gostou muito das viagens a Portugal nas férias de verão. Tanto que, depois dos estudos e dos trabalhos em França, com um estágio no Belcanto pelo meio, encontrou um espaço no Porto para abrir o próprio restaurante.
O Apego foi inaugurado em 2018 e o nome tem significado: "O apego à comida é um apego às memórias, que são também um apego à família e aos lugares, à minha relação com Portugal”, ilustra. Cinco anos depois, o balanço é positivo: "Acho que as pessoas gostam do facto de estarmos a usar produtos tradicionais, que fazem parte da região e do país, mas de forma diferente. Isso faz com que se criem novas memórias com esses elementos. Fazem eco de antigas memórias e criam novas".
Toda a família ajudou na conceção do espaço, que inclui um balcão e cozinha aberta para a sala, facilitando o diálogo entre os clientes e a chef. Aurora sempre pensou o projeto como um lugar "descontraído, com bom ambiente, boa música, gastronomia muito sazonal e diversidade de legumes importante, com comida simples mas saborosa". A chef acompanha todo o processo e no Apego é "tudo feito de raiz", com base em ingredientes frescos e de pequenos fornecedores. "Deixa-me feliz a curiosidade das pessoas, a evolução da cozinha tradicional portuguesa e das mentes, a vontade de valorizar o tradicional, mas também ir além disso. Portugal tem uma cozinha já muito diferente desde que abrimos, há restaurantes e chefs com uma onda muito fresca. Em conjunto, trazemos diversidade e várias visões para valorizar os produtos locais e nacionais, o que é importante e também pode ajudar ao crescimento dos produtores", acredita.
Pode pedir à carta ou o "Menu Desapego", de cinco momentos. A influência francesa é visível sobretudo nas técnicas, que são "ferramentas" para compor pratos de eleição. Legumes, funcho e figos integram as preferências da chef, que trabalha cada vez mais peixe do que carne. Prove a corvina, as lulas, o porco preto e o polvo com molho de alho negro, amoras, batata-doce e arroz. “Robalo, aipo, pastinaca e especiarias” foi uma das criações bem acolhidas, tal como um doce à base de dióspiro e castanha.
Aurora Goy integrou o guia “20 chefs que vão dar que falar”, oferecido pelo Expresso, no âmbito dos 20 anos da marca Boa Cama Boa Mesa.
Sobre o restaurante Apego (Rua de Santa Catarina, 1198, Porto. Tel. 225500457), pode ler-se no Guia Boa Cama Boa Mesa 2023: “Local de memórias e partilha, esta é a casa da jovem Aurora Goy, que explora os seus laços luso-franceses em pratos sazonais, delicados e de sabores pujantes, sustentados por fornecedores pequenos e locais. Até nos vinhos. “Língua de vitela, molho gribiche, broa frita e ervas”, “Robalo, aipo, pastinaca e especiarias” e “Madeleine, clementine e creme de arroz” sobressaem na ementa. Para uma experiência completa, opte pelo Menu Desapego, com cinco pratos à escolha da chef.”