Passou pela joalharia e pelo marketing, mas foi a cozinha que arrebatou o coração de Ana Moura. Depois da formação na Escola de Hotelaria e Turismo, estagiou no Eleven, de Joachim Koerper, que lhe abriu as portas para o restaurante Ampudia, em Espanha. Seguiu-se El Almacen e Arzak, em San Sebastian. Passa ainda o teste do "ritmo de trabalho infernal" do Astelena 1997 e regressa a Portugal para chefiar o Cave 23, em Lisboa. Comanda ainda a Bacalhoaria Moderna, mas a pandemia dita o encerramento. É em 2021 que inaugura o próprio restaurante em Porto Covo, o Lamelas, apelido do avô materno, daqui natural.
Entre alta-cozinha e tradicional, Ana Moura evoluiu “de forma natural, na técnica e no sabor, simplificando a apresentação dos pratos e associando um serviço descontraído, mas com a formalidade necessária, porque o mais importante é o sabor e o respeito pelos produtos, clientes, fornecedores e colaboradores". Trabalha com os pequenos negócios de locais por achar "importante retribuir à terra". "Compro o pão na padaria, a carne no talho, todo o peixe vem da lota de Sines e os legumes da Cristina, no mercado". Quanto aos vinhos, já tem um rosé exclusivo produzido n’A Serenada, em Grândola e muitas parcerias locais, mas quer mais. Procura produtos sustentáveis como a abrótea, que existe muito na zona, "aproveito os fígados para patê e as espinhas para caldo de peixe".
Para a chef de 38 anos, sustentabilidade significa “além de comprar produtos sustentáveis, ter rentabilidade, clientes felizes, pagar sempre a horas aos fornecedores e, mais importante, uma equipa feliz, porque sem isso não fazemos nada". Uma felicidade que implica "ordenados dignos, gestão de horários e bom ambiente de trabalho".
No guia “20 chefs que vão dar que falar” oferecido pelo Expresso, no âmbito dos 20 anos da marca Boa Cama Boa Mesa, Ana Moura confessa estar "de corpo e alma" naquele que considera o "meu projeto de vida neste momento.” Considera que “ser cozinheiro é uma profissão de futuro, que implica pesquisar, provar e ler muito, ser psicóloga e ir ao psicólogo, mas do que se trata mesmo é de fazer pessoas felizes.” E, como mulher e chef tem um desejo: “ver reforçada a liderança feminina nas cozinhas.”
Acredita na ideia de ter "Porto Covo todo o ano" a funcionar, preconizada pela associação presidida por António Moura, o pai, que junta empresários e amigos da vila.
Sobre o restaurante Lamelas (Rua Cândido da Silva, 55, Porto Covo. Tel. 924060426) descreve o Guia Boa Cama Boa Mesa 2023: As “entradinhas” permanecem iguais, e ainda bem, porque a manteiga de porco e o toucinho frito são raros com esta consistência e leveza, assim como a “Musse de fígados de abrótea”. Para começo de refeição, a petiscada completa inclui as saladinhas de ovas e de polvo, gaspacho, lulas fritas com maionese de limão e “Almece (resultante do soro de coalhada do queijo de ovelha) com peixe curado”. A chef Ana Moura aposta cada vez mais nos peixes, sem que isso retire da ementa boas propostas terrenas, como o “Arroz caldoso de coelho”. Surpreendeu com o “Peixe-porco à alentejana”, receita bem caseira, e com as “Lulas recheadas com migas de grelos e paté de ovas de pescada”. Prove as “Migas doces”, acompanhadas por um copinho de barro com medronho. A carta de medronhos deve ser percorrida com cuidado. Nos dias quentes, aproveite o terraço, com vista para a baía de Porto Covo, e saboreie o rosé A Serenada, exclusivo do restaurante e que assinala o primeiro aniversário do espaço. Preço médio: €30.