“Temos mais ou menos uma ideia do que gostaríamos de fazer, mas só sábado é que vamos ter a certeza do que vamos apresentar”, reforça João Narigueta, montemorense de gema e atual proprietário do Híbrido. Já Filipe Rebocho, que, entretanto, deixou o Híbrido e, desde março deste ano, é chef do Cenoura-Brava, o restaurante de fine dinning da Quinta do Santo, pertencente ao Convento do Espinheiro, em Évora, adianta: “vamos ter caça, cogumelos e citrinos certamente. Vamos fazer também algumas coisas que fazíamos quando trabalhávamos juntos.”

João Narigueta confessa ser “um grande admirador e amigo do Gonçalo" e o facto de querer “trazer um pouco da casa que me fez crescer como cozinheiro, o L'And Vineyards”. Eis a razão pela qual Gonçalo Mendes tem como missão escolher o alinhamento vínico para este jantar tão especial. “A harmonização foi preparada com base nos produtores parceiros do Híbrido”, revela o escanção, com a promessa de incluir colheitas especiais, enaltecendo a “boa relação pessoal e profissional que temos”.

Sobre o Híbrido, é de salientar a constante procura de receituário antigo por parte de João Narigueta, prática inerente à pesquisa de “técnicas e produtos que estão a desaparecer aos poucos” e ao cruzamento com a cozinha tradicional alentejana. Por outro lado, dá seguimento ao trabalho exaustivo com uma dezena de produtores de Montemor-o-Novo. Erva-Brava, SimBio, Freixo alimento, Horta do Zé, João Menezes e Mar Salgado são alguns dos nomes, entre tantos outros, que constam na lista e que são presença constante, ao sábado, no Mercado Municipal de Montemor-o-Novo, onde se localiza a Loja Cá da Terra.

“Faço um trabalho diário com todos, de modo a potenciar o valor agrícola de cada um, mas não é fácil quando estamos a falar de produtos de origem biológica sem intervenção de químicos na sua produção. Por isso, temos de aprender a gerir situações imprevistas causadas pela Natureza.” A este respeito, João Narigueta dá como exemplo o que aconteceu no início de 2023, quando alguns dos produtores viram muitos dos produtos arruinados. Face a este cenário, o chef montemorense arranjou uma solução: “tive de alterar grande parte dos pratos, de modo a ajudá-los a gastar o que tinham e mesmo assim conciliar o conceito histórico dos pratos.”

Destes três anos de Híbrido (Rua de Serpa Pinto, 34, Évora. Tel. 961431319), João Narigueta faz “um balanço muito positivo”, sobretudo quando se trata de “um restaurante sem investidores que asseguram a parte financeira” e que começou apenas com dois jovens chefs, “que faziam tudo”, revela. “Fico muito feliz por ver o Híbrido com a evolução que está a ter, de sentir que todo o esforço que fizemos resultou, apesar de ser uma luta constante, para que tudo continue no caminho certo.” Para terminar, reforça que “o Híbrido será sempre a casa do Filipe” e que o jantar de 28 de outubro serve o propósito de ambos reviveram o ano e meio em que protagonizaram a referida dupla corajosa. Portanto, “se o Filipe aceitar, para o próximo ano repete-se.” Fica o repto.