Foi construído em 1887 por António da Costa e Silva e a mulher, Maria Josefa de Mello, para a filha, Helena Maria Luísa, a quem o médico havia recomendado “ares do mar”. Hoje, com 136 anos, mudou radicalmente, mantendo tudo na mesma. Tem mais casas de banho - quando foi construído só tinha uma - ganhou dois quartos no sótão, onde os mais novos faziam brincadeiras, recebeu um elevador, ar condicionado e uma piscina no jardim. No chamado Bairro dos Museus, apesar das profundas alterações, ficou (quase) tudo na mesma no Chalet Ficalho, um dos mais icónicos edifícios de Cascais,
A história conta que a existência do Chalet Ficalho não foi simples. Começou por ser casa de verão dos condes de Ficalho. Foi abandonada na sequência do regicídio e depois do 25 de abril de 1974, acabou por entrar na Rota de Arquitetura de Veraneio de Cascais. Após um moroso processo de partilhas, fica na posse de Maria Chaves, de 70 anos, da quarta geração da família que, para a rentabilizar, decide transformar o palacete em unidade de alojamento. O arquiteto Raúl Vieira foi o responsável pela adaptação do chalet a guest house.O processo contemplou quase tudo, das madeiras aos móveis, dos azulejos ao chão, às portadas, aos lustres e ao mobiliário, replicando outras peças como os sofás, para preservar a aura de romantismo e mistério que a casa sempre teve desde o primeiro dia.
O resultado surgiu no início do verão, com o Chalet Ficalho a anunciar a nova vida dedicada ao turismo. Tem três pisos, nove quartos (a partir de €225), todos com casa de banho privativa, e várias salas onde se acede pela majestosa escadaria ou pelo elevador. É quase um museu. Destacam-se a sala com lareira, batizada como sala comprida, a sala redonda, o escritório e sala de jantar, com a mesa onde se faziam as refeições da extensa família. No jardim, desenhado pelo pai da condessa de Ficalho, que foi também um dos fundadores do Jardim Botânico de Lisboa, surgiu uma agradável piscina.
O Chalet Ficalho abriu a 22 de julho de 2023 e, já este mês de setembro venceu o Prémio Gulbenkian de Recuperação do Património – Maria Tereza e Vasco Vilalva. Em comunicado, o júri justifica a distinção pela “importância patrimonial do edifício enquanto expoente de um estilo arquitetónico em grande parte já hoje destruído na maioria das zonas balneares do País, pelo caráter modelar do respeito pelas técnicas e materiais originais no projeto de recuperação e pelo equilíbrio exemplar entre a preservação do conjunto e a sua adequação à sua nova função como equipamento hoteleiro”. Destaca ainda o facto de “o edifício estar num pequeno parque com espécies arbóreas exóticas, recuperado com grande preocupação de fidelidade ao projeto paisagístico inicial”.
O Chalet Ficalho (Avenida Emídio Navarro, 211, Cascais. Tel. 927513816) localiza-se no Centro Histórico de Cascais, em pleno coração do Bairro dos Museus, ao lado da Casa das Histórias Paula Rego, a 500 metros da praia da Ribeira e a dois minutos a pé da Rua Amarela.