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Em Belmonte, lugar de fusão cultural e terra de Cabral

Em plena Cova de Beira, no sopé da serra da Estrela, Belmonte está fortemente ligada ao navegador e explorador Pedro Álvares Cabral, que em 1500, avistou o Brasil. Mas, esta Aldeia Histórica de Portugal guarda muitos outros tesouros que merecem ser descobertos sem pressas

Belmonte situa-se no morro granítico da serra da Boa Esperança, entre o rio Zêzere, em plena Cova da Beira, no sopé da serra da Estrela. É lugar de história e descobertas. Terra-mãe do navegador Pedro Álvares Cabral, cuja estátua, da autoria de Álvaro de Brée, fica situada frente ao mais emblemático estabelecimento desta Aldeia Histórica de Portugal, pertença de outro belmontino de gema, José Santos Costa. É o “café do Zequinha” e conta com mais de meio século de atividade. Aqui prova-se o biscoito três perninhas, recomendação do professor Dario Gonçalves, também filho desta aldeia histórica. O famoso biscoito é feito de “ovos, farinha e aguardente”, revela, aproveitando para lembrar um doce típico das redondezas, as papas de carolo de milho, que se encontram em vários restaurantes locais”.

Bastam meia dúzia de passos na rua Pedro Álvares Cabral para chegar a outro lugar único, o multipremiado Museu dos Descobrimentos (tel. 275088698). Simula-se a entrada numa barca, que poderia ser a caravela de Pedro Álvares Cabral, com as velas latinas a cobrir o teto, e uma instalação leva-nos até ao alto-mar em plena tempestade. Festejamos a chegada ao Brasil, inundados pelos sons da natureza e pela musicalidade. Aprendemos as línguas das tribos brasileiras depois de atravessar tropical. A existência dos mais variados núcleos museológicos e históricos demonstra que Belmonte é multiculturalidade e tolerância. A convivência pacífica entre povos traduz-se na existência de espaços dedicados aos vários credos, desde o Museu da Judiaria à igreja de Santiago, mas também a sinagoga. Esta ideia surge reforçada na manifestação de arte urbana intitulada “A Paz de Belmonte”, do coletivo artístico de Barcelona Reskate Arts & Crafts, feita em homenagem ao povo da aldeia que, apesar da Inquisição, possibilitou à comunidade judaica viver de acordo com os respetivos costumes. Foi presentada durante o Hanukkah de 2019, a Festa das Luzes que é tradição anual do mês de dezembro em Belmonte, e tem a particularidade de, durante o dia, mostrar ramos de oliveira, árvore de significado espiritual, enquanto à noite transforma-se no desenho de duas mãos luminescentes entrelaçadas.

Centro histórico ludodidático

A rua 1º de Maio é decorada a preceito pelos lojistas, com vasos pintados e flores. São várias as lojas de artesanato peculiares que tornam esta rua animada e especial. A Casa Boa Sorte é local da arte em cabaças, duendes e fadas, assim como da roupa medieval da Spero, tudo da autoria de Maria do Carmo Saraiva Cunha, além de ser a sede do grupo de teatro Oskura (tel. 966627964). O Antiquário Martins (tel. 968484336) vende peças de porcelana, azulejos, alabastros e chacotas. Já a Antiguidades de Belmonte (tel. 968484336) oferece objetos do passado juntamente com artesanato da respetiva oficina de barro. E, nas proximidades do Castelo de Belmonte, um dos locais obrigatórios de visita, o Cantinho de Santiago (tel. 962587379), alojamento e loja de artesanato, vende presépios de burel. A dinâmica Cabralina (tel. 275913135) dá a provar cervejas artesanais, entre as quais uma kosher e apresenta toda uma coleção de moda em burel. Mas este “outro” centro histórico não se esgota aqui. No Largo do Pelourinho, há um mural do Atelier 26, dedicado ao cantautor Zeca Afonso e, mesmo ao lado, o candelabro “Hanukkah”, que costuma iluminar-se no final do ano, frente à Casa da Judiaria (tel. 275181456), que vende vinhos kosher e bijutaria judaica

O panteão dos Cabrais

Belmonte é aldeia rica em museus e núcleos museológicos. Além do Museu dos Descobrimentos, com um grau de entretenimento interativo ímpar, na rua Pedro Álvares Cabral encontra-se o Ecomuseu do Zêzere, instalado na antiga tulha dos Cabrais, um celeiro edificado pela família Cabral. Dá a conhecer o percurso de 240 km do rio inteiramente português, abordando a fauna e a flora, com especial ênfase nas espécies em via de extinção. A dois passos de distância, o Museu do azeite transporta os visitantes para meados do século XX e explana todo o processo de fabrico do azeite. Ao optar por uma visita guiada, no final, saboreia-se a tradicional tibórnia com pão de centeio de Belmonte. Através de agendamento é possível desfrutar de almoço ou jantar no lagar de azeite de Maçainhas. Na loja do Museu do Azeite pode adquirir diversos produtos regionais. Leve como recordação o sabão de azeite fabricado artesanalmente por Eli Bete.

Subindo rumo ao castelo, a terceira proposta é o Museu Judaico, idealmente complementada com a visita à Antiga Judiaria e à sinagoga Bet Eliahu (atual local de culto), para conhecer em profundidade – com recurso a objetos históricos e testemunhos – a história da última comunidade criptojudaica que sobreviveu em Portugal. Chegamos à igreja de Santiago / panteão dos Cabrais, monumento nacional, onde estão depositadas as cinzas de Pedro Álvares Cabral. Fica situada num dos caminhos portugueses de peregrinação a Santiago de Compostela, junto ao castelo de Belmonte. No interior, observamos uma pietá, em granito e policromática – escultura que o escritor José Saramago descreveu como “capela sistina em miniatura” –, além de pinturas murais, vestígios de um tríptico constituído por figuras representativas de Nossa Senhora, São Tiago e São Pedro. O panteão dos Cabrais está adossado à igreja. Para marcação de visitas a estes museus contacte o posto de turismo de Belmonte (tel. 275088698).

Torre de Centocellas
paulo chaves

Aldeia em festa

A herança do explorador e navegador é tema recorrente em diversas iniciativas que animam Belmonte. Nos museus desta Aldeia Histórica de Portugal pergunte pelo Vinho do Porto “500 Anos Pedro Alvares Cabral”. Para passeios alargados, o siga o caminho pedestre de descoberta, com partida de Belmonte e uma extensão de 9,5 km. O percurso PR1 convida a conhecer os principais monumentos e oferece vistas privilegiadas a partir da serra da Esperança. O Castro de Chandeirinha, fortificação da Idade do Bronze, e as ruínas romanas da Quinta da Fórnea integram o percurso. Não deixe de visitar a enigmática e quase fantasmagórica Torre de Centocellas, que data do século I d.C. Prisão com 100 celas, onde prenderam São Cornélio, foi também também entreposto comercial de uma via romana. A função original continua um mistério…No final do passeio siga viagem até à aldeia histórica de Sortelha, a apenas 20 km.

Este artigo foi adaptado do Guia das Aldeias Históricas de Portugal, oferecido com o Expresso, no dia 30 de maio de 2021

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