Em tempos, a moda era ter um jipe, mesmo que não se tencionasse andar um centímetro fora do asfalto. Foi a pensar neste tipo de público que as marcas "inventaram" os SUV, veículos versáteis, aliando uma aptidão TT mais ou menos residual a um bom comportamento em estrada e mantendo, além disso, a "parte boa" de um 4x4, ou seja espaço, posição de condução e robustez (pelo menos psicológica).
Em Portugal, fruto da crise e de um sistema de impostos que, mesmo revisto, continua a penalizar mais a cilindrada que os consumos e as emissões de CO2, as versões de tração integral dos SUV tornaram-se praticamente incomportáveis (exceção feita ao Dacia Duster, na fasquia dos 25 mil euros).
Apesar de tudo, há algum mercado para as versões 4x2 como o demonstra o sucesso do Nissan Qashqai entre nós e muitas marcas têm procurado explorar este nicho. É o caso da Citroen que se lança à escala europeia no negócio dos SUV com o C4 Aircross.
Se, ao olhar para a fotografia, o carro lhe pareceu familiar, o leitor não se enganou: a plataforma e interiores são os do Mitsubishi ASX. Fruto da cooperação entre as duas marcas, o C4 Aircross acrescenta algum "design" francês à solidez nipónica.
E não só. Uma das grandes diferenças está no motor: a Citroen foi buscar o conhecido motor a diesel 1.6 HDI de 115 cavalos e adaptou-o aqui.
Como pude comprovar na recente apresentação europeia na região francesa de Lyon, o casamento deste motor com a caixa de seis velocidades que equipa o ASX é feliz: o carro, mesmo sem ter grande cavalagem rola bem, sobe e ultrapassa sem envergonhar. O consumo anda pelos seis litros aos cem, eventualmente mais uns trocos, dependendo do andamento e do traçado da estrada.Esta versão que, de certeza, será a mais vendida em Portugal, prescinde da transmissão integral: é um mero tração dianteira, cujo único trunfo fora de estrada é alguma altura ao solo.
Homologado com 119 gramas de CO2 por quilómetro percorrido deverá ser vendido a partir de julho por cerca de € 30.800, valor não muito diferente do seu "primo" ASX ou do Qashqai.Há outra versão que, não fossem as originalidades lusas, seria mais apetecível: a que mantém o motor 1.8 diesel semelhante ao do Mitsubishi, sobe a potência para 150 cavalos e passa a ter transmissão integral (com opção 4x2, repartição automática de tração ou bloqueio em modo 4x4).
O primeiro contacto em França sugeriu um carro um pouco mais desembaraçado que o de 115 cavalos mas que nem por isso é mais guloso, digamos que gasta mais meio litro aos cem. E, claro, capaz de se haver, pelo menos minimamente, com lama ou areia.A má notícia é que a aplicação do imposto fará disparar o preço para uns, bem menos apetecíveis, € 42.800.
Aqui está um exemplo de como pela via fiscal se defende tudo menos o ambiente: o carro não tem consumos muito maiores que a outra versão e, no entanto, custa mais € 12.000 (o equivalente ao preço de um citadino com um motor pequeno a gasolina, do género Kia Picanto ou VW Up!). É obra, para não dizer outra coisa.
Lá mais para o verão testaremos mais em pormenor ambas as versões do C4 Aircross.