Foi lançado o ano passado mas, para mim, o Mercedes GLK 220 na versão 4Matic é a surpresa do ano. À primeira parece mais um SUV, pensado para dar umas voltas aligeiradas fora de estrada. Mas, ao fim de uns minutos na terra, que surpresa!
Foi este o carro que nos coube conduzir no IX Off Road ACP, entre Trancoso e Santiago de Compostela.Na ligação Lisboa-Lamego, basicamente por auto-estrada, o Mercedes GLK 220 fez o que seria de esperar de um carro de tração integral permanente com caixa automática (seis velocidades) de 170 cavalos: bom andamento, boa inserção em curva e um consumo da ordem dos dez litros e meio aos cem (gasóleo).
A única observação negativa tem a ver com a ergonomia: a alavanca do controlo automático de velocidade (cruise control) está por cima da dos piscas e limpa-vidros e, embora mais fina, confunde-se com esta.
Mas vamos à terra que é onde esta história começa a ficar francamente interessante. O Mercedes GLK 220 tem, basicamente, dois programas eletrónicos para andar fora de estrada. Um botão aciona o controlo eletrónico de descidas (na linha do HDC popularizado pela Land Rover) e o outro adapta a tração, ABS, aceleração, etc, ao TT.
Adapta e de que maneira! O carro parece que cola os pneus ao chão: não há rodas a patinar nem saltos. A direção é precisa: atira-se o GLK para uma trajetória e é para lá que ele vai, sem teimosias nem reações intempestivas.
A caixa automática é ideal nas passagens mais lentas (valas, pedras, regueiras e por aí fora), enquanto o modo sequencial se revela precioso nos traçados mais rápidos, como os antigos estradões de Fafe do Rali de Portugal. Convém, na transposição dos obstáculos, ter presente que a altura ao solo é menor que a de um jipe. Também é de bom tom não forçar a suspensão, evitando passar rápido em zonas de mau piso, porque, caso contrário, esta rapidamente enviará uns alertas sonoros ao condutor distraído...
E em obstáculos? Surpresa das surpresas: também os faz! Sobe corta-fogos já de alguma dificuldade, onde jipes normais metem redutoras, como foi o caso duma rampa de xisto muito trilhada e com ressaltos no Marão, entre a Campeã e as Fisgas do Ermelo. Aí a vantagem da caixa automática foi evidente, minimizando patinagens de rodas e garantindo que o motor, mesmo ao ralenti, nunca fosse abaixo.
E também desce corta-fogos a sério, como da Capela de Santa Rita para as margens do rio Coura, nos contrafortes da Serra d'Arga, ainda que à base de controlo eletrónico de descida (não há redutoras, apenas bloqueio da caixa em primeira velocidade). Este sistema revelou-se muito eficaz em rampas fortemente inclinadas mas fiquei com a ideia de que prende demais o carro em inclinações médias, sendo preferível, nessas circunstâncias, depender do bloqueio da primeira e do travão normal.
Curiosamente o consumo revelou-se mais comedido fora de estrada: atestado de gasóleo em Lamego, fez metade da etapa do primeiro dia (Lamego-Mondim de Basto, via Marão), a etapa do segundo dia (Mondim-Gerês-Braga-Ofir) e metade da do terceiro (Ofir-Viana-Serra d'Arga-Vila Nova de Cerveira). E ainda sobrou gasóleo para chegar ao Porto.No regresso a Lisboa por auto-estrada, sem pressas mas também sem empatar, o consumo desceu ligeiramente, cifrando-se numa média de 8.9 aos cem.
Resumindo, o GLK 220 CDI 4Matic mexe-se na estrada como um carro, paga portagem como todos os jipes deviam pagar e, fora de estrada, vai até onde o "kit de unhas" do condutor estiver programado para ir.
Preço? Estamos a falar de uma marca que, em primeira mão, nunca foi barata: € 55.912 para a versão base e € 67.392 para a versão ensaiada (com alguns extras). Contraponha-se às versões 4x4 doutros SUV: € 57.000 de um Mitsubishi Outlander, € 45.000 de um Toyota RAV 4 ou € 33.000 de um Honda CR-V.