O bug do milénio continua a gerar efeitos, quase um quarto de século depois de ter atemorizado boa parte do planeta. A Geração X, de que Samuel Úria faz parte, acreditava que nesse particular virar de página no calendário cósmico tudo se iria resolver. 1 de janeiro de 2000 chegou, no entanto, e ninguém deu por si a ir para o emprego num carro voador (lá chegaremos). Na capa de “2000 A.D.”, em tom de banda desenhada, vemos o cantautor das “Canções do Pós-Guerra” a olhar, com ar presumivelmente alarmado, para cima. É que o novo milénio trouxe razões de sobra para nos preocuparmos, incluindo a possibilidade do céu nos cair em cima e, pelos vistos, também ofereceu inúmeras razões para se escreverem canções. Numas protesta-se, noutras fazem-se vénias, noutras ainda abre-se o coração para lá de dentro tirar tudo aquilo que nos mantém vivos. Por tudo isso queremos saber quem acende a voz a Samuel Úria, que no novo ano vai tentar arregimentar fãs suficientes para não ser devorado nos coliseus, como em tempos aconteceu com outros cristãos. A 11 de outubro, Samuel Úria pisará as tábuas centenárias do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e meia dúzia de dias mais tarde, a 17 de outubro, fará o mesmo no Coliseu do Porto. A conversa que se segue versa sobre todas essas coisas importantes. E mais algumas.
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Entrevista a Samuel Úria: “Vemos pessoas conservadoras a venerar figuras que, anos antes, seriam completamente contrárias aos seus valores”
Samuel Úria tem um álbum novo, com canções que olham para o presente de forma desencantada e poética: “2000 A.D.” soma nove delas, de protesto, de vénia, de abertura do coração. “Venho de uma geração que protestava contra a PGA, uma causa legítima, mas que não se pode comparar às lutas estudantis de Maio de 68. Hoje, as lutas sociopolíticas – contra o racismo, contra as derivas da extrema-direita – tornaram-se palpáveis e incontornáveis”, afirma em longa entrevista