Houve várias ideias e sugestões sobre a forma de publicação do livro que José Saramago deixou inacabado, mas acabou por vencer a mais simples: publicar os capítulos e as notas do autor.
"Os livros às vezes fazem-se a eles próprios. Este é também o resultado do nosso luto", disse Pilar Reis, a editora do escritor em Espanha, num debate sobre esta obra do Nobel publicada após a sua morte.
Na conversa, que decorreu na Fábrica de Braço de Prata, um dos cenários do texto, os editores do escritor em Portugal, Espanha, Itália e no Brasil fizeram questão de frisar que "Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas" se trata de um verdadeiro Saramago.
"É um Saramago vintage", disse Luiz Schwarcz, editor do Nobel no Brasil. Para Manuel Alberto Valente, da Porto Editora, esta não é uma obra incompleta. O escritor não teve tempo de o terminar, mas os três capítulos são completos. "É Saramago no seu melhor. Ele podia estar um dia inteiro a trabalhar e só escrever umas linhas, mas essas linhas eram definitivas."
A obra estava prevista para ser um romance pequeno ou uma novela e Saramago deixou escrito, nas suas notas, que queria terminá-lo com um "vai à merda". "E também a luta de escritor contra a morte, porque ele sentiu necessidade de deixar escrito como queria acabar o livro", disse o editor brasileiro.
"Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas" conta a história de um homem que trabalha numa fábrica de armamento e uma mulher pacifista. "É uma denúncia contra a indústria de armas, o tráfico de armas", disse o ex-juiz Baltasar Garzón, que também participou no debate.
Para Eduardo Lourenço, trata-se, até agora, de uma "obra divertida". Roberto Saviano, o escritor italiano infiltrado na máfia italiana em Gomorra, fez questão de se deslocar a Portugal para o debate como "sinal de agradecimento" a Saramago.