Sociedade

Elevador da Glória: Marcelo diz que Moedas tem responsabilidade política, mas remete julgamento para os eleitores nas eleições de outubro

O Presidente da República considera que a tragédia do elevador da Glória exige apuramento de responsabilidades, mas sublinha que, a nível político, a avaliação a Carlos Moedas deve ser feita nas urnas e que o autarca não deve demitir-se

MIGUEL A. LOPES

O Presidente da República afirmou este domingo que o autarca de Lisboa, Carlos Moedas, tem "responsabilidade política" sobre o acidente mortal no elevador da Glória, mas considera que não faz sentido falar em demissão a um mês de eleições.

"Estar a debater a responsabilidade política e dizer que isso implica demissão quando se está a um mês de eleição é não perceber que o juízo sobre a responsabilidade política em cargos eletivos é dos eleitores", realçou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações às televisões, à saída do cemitério do Alto de São João, após o funeral de uma das vítimas mortais do descarrilamento de quarta-feira.

Mas "responsabilidade política há", vincou, porque "quem quer que exerça um cargo político é politicamente responsável". "Quem está à frente de uma instituição pública, seja ela qual for, está sujeito a um juízo político por aquilo que aconteça de menos bem nessa instituição, mesmo que sem culpa nenhuma, mesmo que em intervenção nenhuma", clarificou. A um mês de eleições, reforçou, esse juízo cabe aos eleitores - posição semelhante à já defendida pelo secretário-geral do PS, José Luís Carneiro.

Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda compreender que o presidente da Carris tenha colocado o lugar à disposição e considerou que Carlos Moedas "fez bem" em não a aceitar nesta fase. Porém, advertiu que é importante "a responsabilidade objetiva não morrer solteira", ainda que "aparentemente não haja culpa específica de ninguém" no acidente que causou 16 mortos e 22 feridos.

O chefe de Estado pediu também celeridade às autoridades responsáveis pelo relatório final sobre o acidente, recordando que o próximo relatório "está prometido para daqui a 45 dias" e que o documento definitivo só deverá ser conhecido dentro de um ano. "Se fosse possível abreviar estes prazos, sobretudo do relatório definitivo, todos agradeceríamos", apelou.

O relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) indica que o cabo que unia as duas cabinas do elevador da Glória "cedeu no seu ponto de fixação" da carruagem que descarrilou, concluindo ainda que o plano de manutenção "estava em dia" e que na manhã do acidente foi feita uma inspeção visual programada que não detetou qualquer anomalia.

Entre as principais dúvidas levantadas pelo relatório, o Presidente destacou o motivo pelo qual o cabo se soltou, a falha da redundância que deveria permitir a travagem e a ausência de uma instituição encarregada de fiscalizar este tipo de matérias. "Com os elementos disponíveis, não é possível determinar a responsabilidade de pessoas nem de organizações relativamente ao que aconteceu, nesta fase", afirmou, defendendo ser necessário aguardar pelo relatório prometido para daqui a 45 dias.