Meteorologia

Ciclone tropical Gabrielle nos Açores: alterações climáticas potenciam fenómenos extremos cada vez mais fortes na região

Eduardo Brito de Azevedo, climatologista e coordenador do Grupo de Estudos do Clima da Universidade dos Açores, alerta para fenómenos extremos cada vez mais intensos devido ao aquecimento global. O estado do tempo vai agravar-se a partir do final do dia de hoje, mas a situação mais gravosa será na madrugada de sexta-feira

O ciclone tropical Gabrielle irá atravessar o arquipélago dos Açores, entre os grupos ocidental e central. O estado do tempo vai agravar-se a partir do final do dia de hoje, mas a situação mais gravosa será na madrugada de sexta-feira.

O ciclone tropical Gabrielle estava classificado como furacão de categoria 4, o segundo mais grave. No entanto, as previsões apontam para uma perda de intensidade e que chegará aos Açores como furacão de categoria 1. Ainda assim, não é de desvalorizar porque pode provocar danos.

Eduardo Brito de Azevedo, climatologista e coordenador do Grupo de Estudos do Clima da Universidade dos Açores, alerta para fenómenos extremos cada vez mais intensos devido ao aquecimento global.

"As tempestades correm de oeste para leste aqui ao longo destas latitudes. Somos frequentemente atingidos pelas perturbações da frente polar e por estas trajetórias dos furacões tropicais que sobem no Atlântico e depois invertem para leste, de maneira que é frequente passarem por aqui depressões deste género".

Esse risco tem vindo a agravar-se devido ao aquecimento do oceano.

"Com o aquecimento superficial da água do mar, naturalmente que os furacões passam agora com maior intensidade. Eventualmente não será com maior frequência, discute-se isso, mas com maior intensidade de certeza".

El Niño, La Niña e a intensidade das tempestades

O aquecimento global consequência das alterações climáticas influencia o desenvolvimento destes fenómenos.

"Em situações do El Niño, o desenvolvimento vertical do vento decapita, de certa forma, os furacões. Este ano estamos numa fase de transição do El Niño para La Niña, e isso aumenta a probabilidade de furacões mais intensos e consistentes no Atlântico".

Foi esse o caso do Gabrielle, que "começou junto à costa de África, fez o seu trajeto pela Bacia Atlântica, subiu e inverteu para leste, atingindo agora os Açores".

Um futuro com fenómenos mais intensos

A tendência é clara: o aquecimento global está a tornar fenómenos como furacões, tempestades e precipitações intensas mais fortes.

"Estamos numa fase de aquecimento do planeta e agora mais intensamente devido à ação humana, como está mais provado, e os Açores não estão isentos desse fenómeno global".

Embora o oceano Atlântico exerça algum efeito de regulação térmica, suavizando certas alterações, outros impactos são inevitáveis: "No caso dos Açores, o que mais nos preocupa é a questão das tempestades, da precipitação intensa e da agitação marítima".