Carlos Moedas investiu no futuro, mas ainda não se sabe quando poderá receber os dividendos do capital político angariado durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ): se para uma recandidatura à Câmara que ainda é tabu, se para suceder a Luís Montenegro caso o líder saia inesperadamente (e Passos Coelho não avance), se para outros voos menos prováveis, como as presidenciais. E esse investimento mede-se em euros e em meios: o presidente da Câmara de Lisboa teve à sua disposição serviços e funcionários da autarquia, uma unidade de missão contratada só para a JMJ, incluindo um coordenador para a área da comunicação, e uma agência de comunicação externa. Se não foi uma máquina de propaganda profissional que Moedas teve à disposição na semana em que Lisboa recebeu o maior evento de sempre realizado em Portugal, foi uma task force altamente especializada — e em permanência.
A menos de um mês da Jornada, a Câmara de Lisboa contratou uma agência, a Hill+Knowlton Strategies (H+K), para ficar responsável pela “conceptualização e execução de campanhas” da autarquia para o evento. O contrato é de 40 dias, acaba a 15 de agosto, e custou pouco mais de €35 mil. O CEO da H+K, José Bourbon-Ribeiro, conta que a agência destacou sete a oito funcionários em full time para a tarefa, mais quatro a cinco com um ritmo menos intenso. E concebeu materiais gráficos espalhados pela cidade, assegurou a relação com os media nacionais e internacionais que estiveram em Lisboa e, num terceiro domínio, a criou “materiais informativos ao munícipe”, que incluíram uma carta da câmara aos lisboetas e vídeos nas redes sociais, com informação prática, que ia desde alertas contra o calor ao trabalho de serviços como os bombeiros ou a Carris. Mas onde o presidente da Câmara também foi aparecendo como figura destacada. Àquela agência juntou-se a outra: a Feeders, contratada no segundo semestre de 2022, por cerca de um ano e €54 mil, para “serviços de conceptualização, produção, montagem, manutenção e desmontagem de materiais de comunicação e promoção volumétricas” também relacionadas com a JMJ. Na mesma altura, foi criada uma Unidade de Missão para o evento em Lisboa, onde se incluem elementos ligados a PSD e CDS. Álvaro Covões, proprietário da Everything is New — uma promotora de grandes festivais —, trabalhou pro bono para Lisboa e recebeu do município de Oeiras mais de meio milhão de euros, para manter o palco do festival Nos Alive num dos eventos em que o Papa participou. O despacho que criou a equipa de missão da CML, de outubro de 2022, previa também o “envolvimento de todas as áreas de competência” da autarquia, incluindo um ou mais responsáveis indicados pelos vários vereadores, do ambiente à cultura. No fim da Jornada, o telemóvel de Moedas entupiu com mensagens de elogio, como se tivesse acabado de vencer uma noite eleitoral.