É um mistério como é que um homem cuja espiritualidade está no centro da ação consegue manter-se indiferente ao aparato que se gera sempre à sua volta. Não o das bermas das estradas, cheias de gente para acenar ao Papa, mesmo sabendo que só a grande distância, e com sorte, o vão conseguir ver. Mas o alarde da entourage de guarda-costas e demais seguranças, assessores, equipa médica e outros funcionários do Papa. A calma e o sorriso aberto com que Francisco, um homem no inverno da vida, curvado ou, na maioria das vezes, sentado na cadeira de rodas, surge em cada momento contrasta com a urgência de fim de mundo de todos os que o rodeiam.
Francisco cumpriu em março 10 anos de Pontificado e, das várias marcas que parece querer deixar, talvez essa seja uma das que fica mais clara entre quem o segue por estes dias: a dessacralização da figura. Apesar de ser colocado como uma entidade quase mística, acima dos mortais, nos momentos públicos ou nos mais recatados o Papa faz questão de baixar à Terra.