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Jornada Mundial da Juventude

No ar, com o Papa que quer fazer a Igreja descer à Terra

Hierarquia. Expresso a bordo do voo papal. Francisco tenta dessacralizar figura do Papa e pôr Igreja a falar com todos. Abusos são tema-chave

Imagem da primeira grande enchente da Jornada, terça-feira, no Parque Eduardo VII, ainda antes da chegada do Papa

É um mistério como é que um homem cuja espiritualidade está no centro da ação consegue manter-se indiferente ao aparato que se gera sempre à sua volta. Não o das bermas das estradas, cheias de gente para acenar ao Papa, mesmo sabendo que só a grande distância, e com sorte, o vão conseguir ver. Mas o alarde da entourage de guarda-costas e demais seguranças, assessores, equipa médica e outros funcionários do Papa. A calma e o sorriso aberto com que Francisco, um homem no inverno da vida, curvado ou, na maioria das vezes, sentado na cadeira de rodas, surge em cada momento contrasta com a urgência de fim de mundo de todos os que o rodeiam.

Francisco cumpriu em março 10 anos de Pontificado e, das várias marcas que parece querer deixar, talvez essa seja uma das que fica mais clara entre quem o segue por estes dias: a dessacralização da figura. Apesar de ser colocado como uma entidade quase mística, acima dos mortais, nos momentos públicos ou nos mais recatados o Papa faz questão de baixar à Terra.