A casa de Vanessa está cheia de coisas e coisinhas que em tempos encheram um T2 completamente banal. Desempacotaram tudo o que tinham há ano e meio e encaixaram-se numa casa demasiado pequena, com três pequenas divisões: uma cozinha-entrada, uma sala-quarto e um quarto que é uma sala de jantar. Não há casa de banho, apenas uma sanita atrás de uma porta, num cubículo mais pequeno do que um armário; os duches tomam-se na rua durante o verão e no meio da cozinha no inverno. “Tenho esta piscina aqui”, conta a mulher de 32 anos, enquanto abre a cortina que esconde a chaminé e tira um pequeno insuflável colorido, daqueles em que bebés de fralda chapinham na praia com água do mar. Aqui serve de banheira no meio de uma cozinha.
Vanessa vive com o marido Fernando e a filha Gabriela, de nove anos, no Bairro da Liberdade. Foi ali que, quando os valores das rendas dispararam, encontraram onde morar por €120, numa casa “sem condições de habitabilidade”, mas que pelo menos não era uma tenda. “Era isto ou a rua, era pagar uma renda de €600 ou comer.” Enfiaram toda a vida ali, encafuada numa casa sem portas e só com uma janela. “Ter uma sanita neste bairro é um luxo. Há aqui quem não tenha e use a fossa comum.” As pessoas usam um balde, vão à rua e atiram os dejetos para um buraco. “Não deviam ficar contentes com a vinda do Papa cá, mas tristes. Se vem, não é por este ser o bairro mais bonito.”