Com base em modelação geoespacial, observação de satélite do planeta e dados de inquéritos a agregados familiares, um grupo de investigadores liderado por Esther Greenwood, investigadora no domínio da água no Instituto Federal Suíço de Ciências e Tecnologias Aquáticas, de Dübendorf, constatou que “a disponibilidade de água potável está longe de ser universal”.
Pelo menos 4,4 mil milhões de pessoas na Terra – metade da população mundial – não têm acesso a água potável, um Direito Humano consagrado pela ONU. A constatação, que aponta para o dobro de outras estimativas, é clara num artigo publicado na revista “Science” a 15 de Agosto. No “paper” científico é referido que “apenas uma em cada três pessoas em países de baixo e médio rendimento tem acesso a serviços de água potável geridos de forma segura”.
Para chegar a este número, a investigação usou as respostas a inquéritos a 64.723 agregados familiares em 27 países de rendimento baixo e médio entre 2016 e 2020, com base em quatro critérios. Havendo um em falha, consideram que a água não era segura. Com base nos resultados e num algoritmo com dados geoespaciais globais (incluindo fatores como a temperatura média regional, a hidrologia, a topografia e a densidade populacional), os investigadores chegaram às conclusões apresentadas.
Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa Conjunto de Monitorização do Abastecimento de Água, Saneamento e Higiene do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) estimavam que, pelo menos 25% da população mundial não dispunha de serviços de água potável, e a nova investigação apresenta o dobro desta realidade. Em causa está um dos objetivos da Agenda 2030 das Nações Unidas (ONU) para o Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Entre as principais razões para a falta de água segura para a saúde humana está a contaminação fecal dos cursos de água próximos das populações analisadas e o facto de muitos não terem sequer acesso a qualquer água nas proximidades.
Citada pela revista Nature, a especialistas em recursos hídricos Esther Greenwood, considera esta situação “inaceitável” e diz que “é urgente mudar esta realidade” e monitorizar o abastecimento de água a nível mundial de uma forma mais completa. Isto porque, em seu entender, não basta que se identifiquem melhoramentos nos sistemas de abastecimento como poços nos quintais protegidos de contaminação ou investimentos em condutas de recolha de águas pluviais.
Desde 2015 que o Direito à água está consagrado como um Direito Humano, o que implica tornar as fontes de água acessíveis e livres de qualquer contaminação.