Um ano depois da divulgação de relatos de assédio na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, uma denúncia voltou a abalar o meio académico, desta vez com a publicação de um artigo em que três investigadoras revelam ter sido assediadas no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, acusando, ainda que sem o nomear, o sociólogo Boaventura Sousa Santos e um assistente. Ambos já negaram os relatos. Em entrevista ao Expresso, Anália Torres, diretora do Centro Interdisciplinar de Estudos de Género da Universidade de Lisboa, que tem coordenado várias pesquisas sobre assédio sexual, lamenta que muitas instituições, desde logo faculdades, não tenham ainda criado mecanismos para prevenir e combater o fenómeno.
Esta semana, três investigadoras relataram situações de assédio num livro, não identificando a instituição e os alegados agressores, mas permitindo que se percebesse onde era e de quem se tratava. Que comentários lhe merece este caso?
É preciso investigar, como o CES vai fazer, e ouvir uns e outros. A forma como este caso veio a público não me parece a mais correta, mas a verdade é que, não havendo mecanismos [de denúncia] montados, muitas vezes as pessoas não têm maneira de dizer as coisas. Se, na altura dos factos, existissem naquela instituição mecanismos próprios, as pessoas poderiam ter feito uma queixa anónima, que só seria conhecida por uma comissão independente. E se não o tivessem feito, então poderia presumir-se que estavam a inventar.