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Fogos deixaram muitas vezes a população entregue a si própria: “Nem os bombeiros entravam nem nós saíamos”

A vaga de incêndios que queimou o Centro do país deixou, muitas vezes, a cargo dos habitantes o combate às chamas e a defesa das casas. Podia ser de outra maneira?

Os bombeiros de Albergaria combateram o fogo até à exaustão

Durante três dias viram o fogo a aproximar-se. Primeiro pela televisão, nos concelhos vizinhos. Depois pela vasta encosta da serra da Arada, acelerado pelas rajadas do vento leste. A aldeia de Aldeia está no fundo de um dos muitos vales e covas desta região. E, apesar de estarem à espera do incêndio, os poucos habitantes de Aldeia de Sul (é assim que os locais se referem a este lugar) foram surpreendidos por uma tempestade de chamas e vento. “Fez um ‘o’ à volta das casas e nem os bombeiros entravam nem nós saíamos”, explica João Luís, um agente funerário na reforma, que, garante, “nunca” teve medo de morrer na noite em que foi cercado pelo “inferno”. “As chamas pareciam fogo de artifício, mas viemos aqui para o largo principal, como a GNR nos disse, e nunca estivemos verdadeiramente em perigo. Vivo na serra e já vi muitos fogos, mas nada como isto, com esta intensidade, com este vento e com as fagulhas a voarem à volta de nós.”