Boaventura Sousa Santos diz estar agora mais tranquilo do que estava há um ano, quando se tornaram públicas as acusações de assédio sexual, moral e laboral, feitas por três investigadoras e alunas Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES). Num comunicado por escrito enviado ao Expresso, o sociólogo e fundador do CES, socorre-se da ausência de nomes no relatório final da comissão independente para constatar que não há “acusações diretas”.
“Pessoalmente, estou mais tranquilo hoje do que estava há um ano. Nunca esperei uma absolvição das suspeitas que sobre mim pairaram porque, efetivamente, nunca fui confrontado com acusações concretas de abuso de poder ou de assédio - como, aliás, o próprio documento agora atesta”, diz Boaventura, lamentando que não exista, no entanto, “um esclarecimento que pusesse fim ao clima de suspeição”.
Na nota enviada, o sociólogo socorre-se de uma das conclusões da comissão para explicar a sua “tranquilidade” e cita o relatório: “Verificou-se que as versões apresentadas por várias pessoas denunciantes e por várias pessoas denunciadas foram em muitas situações incompatíveis entre si, tornando-se, nessas situações, impraticável aferir evidências das mesmas”.
Esta é uma das considerações finais citadas por Boaventura, que omite, no entanto, a conclusão final da comissão: “Da análise de toda a informação reunida, bem como das versões entre as pessoas denunciantes e pessoas denunciadas que foram compatíveis entre si, indiciam padrões de conduta de abuso de poder e assédio por parte de algumas pessoas que exerciam posições superiores na hierarquia do CES”.
Boaventura argumenta ainda que os padrões de conduta mencionados pela comissão independente não são concretamente identificados no espaço e no tempo e praticadas por pessoas que exerciam posições superiores na hierarquia do CES. “Recordo a esse propósito que o CES tem, em termos de órgãos, Direção, Conselho Fiscal, Assembleia-geral, Comissão de Ética, Conselho Científico e Provedoria. Não faço parte de nenhum deles desde 2010”, diz ainda.
O sociólogo deixa ainda críticas à direção do CES que, pouco após o relatório ter sido divulgado, publicou uma carta aberta em que pedia desculpa "às pessoas que se consideram vítimas de comportamentos de assédio ou abuso". “Quanto a mim, não tive conhecimento dessas situações. Seja na esfera judicial ou disciplinar, espero que a Direção do CES dê seguimento a qualquer indício de infração – como comunicou que faria – e que, pela minha apreciação do relatório e no me que diz respeito, não existe”, diz. E continua: “Acredito que as mais de 600 páginas de prova que juntei ao processo tenham contribuído para que nada de objetivo contra mim tenha sido concluído. Espero que, apesar das limitações que revelou, este processo sirva de exemplo para futuro. Quero acreditar que abre um caminho de esperança para um melhor desempenho, a todos os níveis, tanto do CES como de todas as instituições de investigação”.
Esta quarta-feira, a comissão independente, constituída para investigar as suspeitas de assédio no (CES) por parte de Boaventura Sousa Santos e do seu assistente Bruno Sena Martins, concluiu que houve “padrões de conduta de abuso de poder e assédio” - ainda que o nome de ambos nunca é referido ao longo das 114 páginas do documento publicado esta quarta-feira.