Sociedade

Pela primeira vez em 35 anos, o “Jornal de Notícias” não chega às bancas esta quinta-feira

Diário não tem edição devido à greve dos trabalhadores do JN “em defesa do jornalismo, das pessoas e da democracia”, depois de a Global Media ter anunciado a intenção de dispensar centenas de trabalhadores. A última vez que o jornal não foi publicado foi em 1988

Lusa

Esta quinta-feira, o “Jornal de Notícias” (JN) não chega às bancas. É a primeira vez em 35 anos que o diário não é publicado, devido à greve dos trabalhadores a decorrer esta quarta e quinta-feira, dizem ao Expresso as delegadas sindicais do JN.

A última vez que o jornal não foi publicado foi em 1988, também devido a uma greve. O protesto que agora acontece, convocado pelo Sindicato dos Jornalistas e com quase 100% de adesão por parte dos jornalistas, surge no decorrer da comunicação por parte do grupo Global Media — dono do jornal e também de órgãos de comunicação social como o “Diário de Notícias” (DN) e a TSF — de um despedimento coletivo.

A administração do grupo Global Media fez saber esta quarta-feira, através de um comunicado interno aos trabalhadores, que decidiu “avançar com um processo de reestruturação e de negociação de acordos de rescisão com caráter de urgência”, com 150 a 200 trabalhadores, de forma a “evitar um processo de despedimento coletivo, alternativa essa que, para esta comissão executiva, apenas será opção em último caso”.

O grupo, que refere prejuízos a ultrapassar os sete milhões de euros, explica que o pagamento de salários nos últimos meses (e a publicação do DN, por exemplo) só foi possível graças às transferências do empresário Marco Galinha, que vendeu recentemente parte da sua participação ao fundo World Opportunity Fund, cedendo-lhe o controlo.

O Sindicato dos Jornalistas acusa a administração da Global Media de “contrariar os mais elementares princípios da boa-fé” perante a intenção de dispensar este número de trabalhadores sem uma “explicação cabal das reais intenções” desse processo, tendo também anunciado que ia “denunciar formalmente” à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) o atraso no pagamento dos salários.

Uma greve “em defesa do jornalismo, das pessoas e da democracia”

Além do anúncio de despedimento coletivo de 150 pessoas que os trabalhadores do JN diziam lhes ter sido comunicado pela administração do grupo, das quais 40 seriam do JN e sobre o qual não lhes terá ainda sido dado “esclarecimento”, terão contribuido para a paragem quase total o atraso no processamento de salários referentes ao mês de novembro (que começaram a ser pagos esta terça-feira) e o pagamento do subsídio de Natal em duodécimos, nos salários de janeiro a dezembro de 2024, que a administração diz dever-se a “constrangimentos financeiros”.

Depois do cancelamento de reuniões com as direções do grupo, vários trabalhadores concentraram-se na manhã desta quarta-feira em frente à sede do jornal, no Porto. Nesta quinta-feira, a concentração será feita em frente à Câmara Municipal do Porto.

Num manifesto publicado nos canais do movimento “Somos JN”, que surge “pela defesa do ‘Jornal de Notícias’ e de 135 anos de ligação às pessoas e aos territórios”, os trabalhadores referem que, apesar de a publicação apresentar “anualmente resultados positivos, na ordem dos milhões de euros” e estar há anos “nos lugares cimeiros do online”, o JN “não é uma prioridade para a nova administração do Global Media Group”, que ignora o “capital económico e patrimonial” do jornal.

O “corte” destes trabalhadores “será a morte do JN como o conhecemos e a destruição da ligação centenária às pessoas, às instituições e aos territórios. Se esta impensável decisão avançar, o título até pode sobreviver mais um ano ou outro, mas nunca será capaz de continuar a fazer a diferença”, referem.

Além da greve, que se junta a outra feita em setembro na TSF, foi lançada uma petição online em defesa do jornal, realçando a sua importância histórica para o Porto, a região Norte e todo o país. Foi assinada por mais de 5400 pessoas no momento da publicação desta notícia.

Juntamente com a paralisação prevista para a edição em papel, também o site e as redes sociais do JN estão a sofrer “perturbações no serviço informativo que presta aos seus leitores” até às 23h59 de 7 de dezembro, indica um aviso publicado nos canais oficiais do jornal.