As primeiras fotografias dos mosquitos chegaram às mãos dos cientistas no mês de setembro, enviadas por moradores na região de Lisboa, depois de se cruzarem com uns insetos invulgares que, ao picarem, deixavam umas ‘babas’ bastante maiores e mais incómodas do que as melgas habituais. Os especialistas em insetos do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) receberam as imagens, analisaram-nas e, para confirmarem que se tratava mesmo da espécie que há muito tempo se sabia que haveria de aparecer na capital, enviaram equipas de técnicos ambientais e cientistas a esses locais. Estudados os insetos em laboratório, não restaram dúvidas: os Aedes albopictus, uns mosquitos muito inteligentes, oriundos da Ásia, em expansão na Europa e capazes de transmitir os vírus que causam doenças como dengue, zika ou chicungunha, já estão mesmo na região de Lisboa. A confirmação levou ao aumento do nível de vigilância e de alerta das autoridades de saúde em Portugal.
As picadas destes mosquitos só representam risco a partir do momento em que eles próprios estão infetados com um destes vírus e, para que isso aconteça, têm primeiro de picar uma pessoa infetada. O problema é que basta alguém chegar a Portugal infetado com um destes vírus — com ou sem sintomas de doença — e ser picado numa área do país com alguma abundância destes insetos para existir risco de ocorrência de um surto. Foi o que aconteceu em 2007, em Itália, onde os Aedes albopictus já estavam instalados desde os anos 90: um único viajante vindo da Índia gerou um surto de chicungunha (causa febre e dores fortes nas articulações) com cerca de 200 casos na região de Ravena.