Não há um nome, uma fotografia ou sequer a data de admissão hospitalar. Revirados arquivos e memórias clínicas, desta história com 40 anos só ficou o mês e o ano e as inconfidências que se sussurravam nos corredores do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, quando em outubro de 1983 aí foi internado o primeiro caso oficial de VIH em Portugal. Era um jovem português, gay, cabeleireiro de profissão. Vivia no Canadá até que um teste positivo conduziu ao seu repatriamento compulsivo. A descoberta da sida, nos EUA, levava três anos e acumulava estigma e medo, por misturar homossexualidade e morte certa.
Como lá, cá também. O seu internamento foi difícil, como se de repente o hospital tivesse na mão uma granada que ninguém sabia onde pousar sem que provocasse baixas. “Cheguei a vê-lo. Foi colocado, de forma meio clandestina, no Pavilhão G. Havia um medo irracional, ainda mais porque tinha um sarcoma de Kaposi [cancro] generalizado na face e membros”, recorda o médico João Machado, então um jovem interno.
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