A ideia de construir em Lisboa um memorial em homenagem aos presos e perseguidos políticos do Estado Novo é antiga, mas nunca avançou. Apesar de, em 2021, a Câmara ter aprovado por unanimidade a construção do monumento, o projeto nunca saiu do papel. Para pressionar a autarquia, foi entregue esta quinta-feira no gabinete do vereador da cultura uma petição com duas mil assinaturas em defesa da edificação de uma obra “que preste homenagem e tributo a todos aqueles que, lutando pela liberdade e pela democracia, foram vítimas de perseguição e repressão” ao longo dos 48 anos de ditadura.
“O objetivo deste memorial será, sobretudo, o de manter a memória viva para que não seja esquecido nunca o sofrimento causado pelo Estado Novo”, diz ao Expresso Vítor Sarmento, um dos promotores da iniciativa.
Os historiadores Irene Pimentel, Fernando Rosas e Miguel Cardina estão entre os dois mil subscritores da petição, lançada há menos de três semanas.
“A ideia da construção de um memorial é muito antiga. Ainda António Costa era presidente da Câmara e já havia conversações nesse sentido. O projeto foi finalmente aprovado em 2021, por unanimidade, e é inexplicável o tempo que está a demorar”, lamenta Vítor Sarmento.
O local até já está escolhido, desde essa altura. O memorial será construído no Largo da Boa Hora, onde se realizavam, na capital, os Tribunais Plenários que julgavam, sem verdadeiras garantias de defesa e com sentenças ditadas pela PIDE, os opositores ao regime.
De acordo com a autarquia, na semana passada foi criado na Câmara um grupo de trabalho para dar seguimento a este projeto. Os subscritores da petição pedem agora “especial empenhamento na concretização do memorial, a tempo de a inauguração poder vir a estar incluída nas comemorações do Cinquentenário do 25 de Abril de 1974.”
Mas, faltando apenas seis meses para essa data, dificilmente o monumento estará pronto a tempo. “É triste, mas com o tempo que falta, é praticamente impossível que esteja de pé nos 50 anos da Revolução. Só queremos que avance, de uma vez por todas”, apela Vítor Sarmento.
A 25 de Abril de 2019, por ocasião do 45º aniversário da Revolução foi inaugurado, na Fortaleza de Peniche, onde hoje funciona o Museu Nacional Resistência e Liberdade, um memorial aos presos políticos com o nome de mais de 2500 antifascistas que estiveram encarcerados naquela cadeia entre 1934 e 1974.
O monumento, porém, não contempla o nome de nenhuma mulher - uma vez que aquela prisão era exclusivamente masculina - nem a identificação de opositores ao regime que estiveram presos noutras cadeias, sem nunca ter passado por Peniche.
Durante a Ditadura Militar e o Estado Novo, entre 1926 e 1974, foram presas nas cadeias políticas do regime mais de 30 mil pessoas.