Sociedade

Recorde do dia mais quente de sempre na Terra foi quebrado três vezes esta semana: continuará a temperatura a subir?

A conjugação do aumento das temperaturas médias globais causado pelas alterações climáticas e o fenómeno climatérico El Niño vai garantir que o ano de 2023 será um dos mais quentes desde que há registo, notam os especialistas. O mês de junho foi o mais quente de sempre e as Nações Unidas já alertaram que o aquecimento global está “fora de controlo”

Na Chamusca, na quinta-feira, ainda não eram 11h e os termómetros já marcavam 38 graus
NUNO BOTELHO

A passada quinta-feira, dia 6 de julho, foi o dia mais quente de sempre na Terra, notou a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA). Ontem, a temperatura média à escala global atingiu 17,23°C, valor que representa o máximo histórico desde 1979, ano em que a organização norte-americana começou a publicar este indicador.

Este anúncio seguiu-se a outros muito semelhantes, já que o mesmo recorde foi quebrado três vezes durante esta semana. Na segunda-feira, dia 3 de julho, a temperatura média à escala global atingiu 17,01°C. No dia seguinte, subiu para 17,18°C, segundo dados de centros meteorológicos da NOAA, mantendo-se constante na quarta-feira. O recorde anterior tinha sido atingido em agosto de 2016 (16,92°C).

Embora os dados da NOAA abranjam apenas as últimas quatro décadas, Jennifer Francis, cientista sénior do Centro de Investigação Climática Woodwell, nos EUA, disse à CNN que as temperaturas desta semana são as mais quentes "provavelmente desde há pelo menos 100.000 anos".

Rápido na reação, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lamentou que o aquecimento global está “fora de controlo”: "Se continuarmos a adiar as medidas essenciais que são necessárias, penso que estamos a caminhar para uma situação catastrófica, como demonstram os dois últimos recordes de temperatura", defendeu Guterres, citado pelo diário britânico The Guardian.

Devido à incidência do fenómeno climatérico El Niño, geralmente associado a um aumento das temperaturas à escala mundial, não é de excluir que este recorde possa ser batido novamente. Vários especialistas apontam que o ano de 2023 será um dos mais quentes desde que há registo, sendo que o passado mês de junho foi mesmo o mais quente já observado, superando em muito o recorde de 2019, segundo um estudo do Copernicus, um programa da Comissão Europeia que estuda alterações climáticas e ambientais.

"Os extremos resultam de uma conjugação de fatores: as alterações climáticas a fazer subir as temperaturas médias globais e o El Niño a elevar a probabilidade de se atingirem extremos”, lembrou esta semana ao Expresso o climatologista Carlos Câmara.

Em Portugal continental, o passado mês de junho foi “o quinto mais quente desde 1931”, informou esta sexta-feira o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), com o valor da temperatura média do ar a situar-se nos 21,92ºC, um aumento de 2,49ºC em relação ao valor normal dos anos 1971-2000.

Portugal já tinha batido em 2022 o seu recorde de temperatura anual, juntamente com dez países europeus, incluindo Espanha ou Irlanda. Ficou mesmo no top-10 da União Europeia no que respeita à diferença entre 1979 e 2022 em termos de graus-dia, uma medida que tem em conta o número de dias acima dos 24.ºC e quão acima desse valor esteve a temperatura.