A maré-cheia conjugada com a intempérie elevou as ondas 11 metros e fez o mar galgar o paredão e provocar estragos na marginal do Furadouro, em Ovar. Aconteceu há poucos dias e quem ali vive já não estranha. Este troço de costa é um dos mais fustigados pela erosão costeira, sobretudo devido à ação energética do mar e à artificialização dos rios, com barragens que impedem as areias de chegar à costa.
Um quinto do litoral português é afetado por esta sina. Em 62 anos (1958-2020), as dentadas do mar levaram um total de 13 quilómetros quadrados de território (1313 hectares), segundo dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Só num troço de oito quilómetros, entre a praia de Cortegaça e a do Furadouro, foi registado um recuo médio de 96 metros, que em alguns pedaços chegou a um máximo de 160 metros, entre 2001 e 2021. Isto significa uma taxa de erosão de 4,8 metros por ano. A monitorização do Programa da Faixa Costeira de Portugal Continental (COSMO) indica que mais de metade desta extensão se encontra em “erosão extrema” ou “severa”.