Sociedade

“Operação Descobrimento”: PJ e Polícia Federal brasileira desmantelam rede que colocou cocaína em avião onde seguia João Loureiro

Rede colocou 595 quilos de cocaína no avião onde viajava João Loureiro do Brasil para Portugal no ano passado. Em Lisboa foi detida uma brasileira que tinha sido alvo de prisão, e posterior libertação, na operação Lava Jato no Brasil. Há oito anos foi apanhada com 200 mil euros escondidos na roupa no aeroporto de São Paulo

Avião privado onde seguia João Loureiro alvo da Polícia Federal

A Polícia Judiciária e a Polícia Federal brasileira desmantelaram a rede criminosa internacional de tráfico de cocaína que colocou 595 quilos desta droga no avião particular onde viajava João Loureiro em fevereiro no ano passado, de Salvador da Baía para o aeródromo de Tires, em Portugal.

Foram realizadas buscas em Portugal e no Brasil. Em Lisboa foi detida pela PJ a brasileira Nelma Kodama, alvo de suspeitas na operação Lava Jato em 2014, tendo sido nessa altura condenada a 18 anos de prisão, e sobre quem recaía agora um mandado de detenção internacional. Encontrava-se num hotel de luxo. As autoridades suspeitam que Nelma Kodama estaria a participar na lavagem de dinheiro para o tráfico das drogas.

A suspeita tornou-se conhecida ao tentar embarcar com 200 mil euros escondidos na roupa no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, sendo presa em flagrante pela Polícia Federal. Dois anos depois, em 2016, acabou por ser libertada por acordo com o Ministério Público. Foi uma das principais delatoras do Lava Jato.

DEA norte-americana também ajudou na 'Operação Descobrimento'

De acordo com a Polícia Federal, nesta “Operação Descobrimento”, foram cumpridos esta terça-feira 43 mandados de busca e apreensão e sete mandados de prisão preventiva nos estados da Baía, São Paulo, Mato Grosso, Rondônia e Pernambuco.

As investigações tiveram início em fevereiro de 2021, quando um jato executivo Dassault Falcon 900, pertencente a uma empresa portuguesa de táxi aéreo, aterrou no aeroporto internacional de Salvador da Baía para abastecimento. No voo seguia João Loureiro, que não foi considerado suspeito do caso. Após ser inspecionado, foram encontrados cerca de 595 kg de cocaína escondidos na fuselagem da aeronave.

A partir da apreensão, a Polícia Federal conseguiu identificar a estrutura da organização criminosa atuante nos dois países, composta por fornecedores de cocaína, mecânicos de aviação e auxiliares (responsáveis pela abertura da fuselagem da aeronave para acondicionar a droga), transportadores (responsáveis pelo voo) e ‘doleiros’ (responsáveis pela movimentação financeira do grupo).

As medidas judiciais foram expedidas pela 2ª Vara Federal de Salvador da Baía e pela Justiça portuguesa. A Justiça brasileira também decretou medidas patrimoniais de apreensão, sequestro de imóveis e bloqueios de valores em contas bancárias usadas pelos investigados.

No curso das investigações, a PF contou com a colaboração da DEA (Drug Enforcement Administration - Agência norte-americana de combate às drogas), da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da Polícia Judiciária Portuguesa e do Ministério Público Federal.

Mais passageiros previstos no jato da cocaína

Além de João Loureiro ia a bordo um cidadão espanhol, alvo de uma investigação em Portugal. No plano de voo do Brasil para Portugal estavam ainda os nomes dos empresários de futebol Bruno dos Santos e Hugo Cajuda de Sousa, Paulo Cunha, Bruno Macedo e o jogador do Benfica Lucas Veríssimo.

Posteriormente viria a ser encontrada mais cocaína no interior do avião da empresa portuguesa OMNI no aeródromo de Tires.

O comunicado da PJ refere que no ano passado, no quadro desta operação, haviam sido já apreendidos mais de 650 quilos de cocaína que foram detetados na fuselagem do avião de registo português.

O Expresso contactou o empresário e ex-presidente do Boavista João Loureiro que disse não ter "qualquer conhecimento" sobre estas detenções.