Sociedade

Comunidade Israelita do Porto suspende certificação de judeus sefarditas e garante ter recebido apenas €250 no processo de Abramovich

A direção da Comunidade Judaica do Porto decidiu que "não tem mais interesse" em colaborar com o Estado português na certificação de judeus sefarditas, apesar de o rabino-chefe Daniel Litvak não estar judicialmente impedido de o fazer

A comunidade judaica do Porto anunciou, este domingo, que suspendeu os processos de atribuição da nacionalidade portuguesa a descendentes de judeus sefarditas, como aconteceu com Roman Abramovich. A decisão surge após a detenção, sexta-feira, do líder religioso da Comunidade Israelita do Porto (CIP), o rabino Daniel Litvak, que se encontra a aguardar o desenvolvimento do processo com termo de identidade e residência (TIR), obrigado a apresentações periódicas às autoridades e proibido de sair do país.
Em comunicado, a direção CIP refere que, embora o rabino-chefe "não tenha sido judicialmente impedido de continuar os processos de certificação de sefardismo" e de ser "uma autoridade religiosa reconhecida pelo Rabinato-Chefe de Israel", com todas as competências para cumprir tal missão, deixou de ter "interesse em colaborar com o Estado". E lembra que a sua proposta ao Governo PSD/CDS, apresentada em 2013/2014, foi no sentido de ser constituída uma comissão internacional.
Na nota, a comunidade judaica adverte que ser judeu "é uma genealogia", algo que salienta "ninguém parece compreender em Portugal". A CIP sublinha ainda que o processo criminal em curso assenta "fundamentalmente" em denúncias anónimas "inverosímeis", dando como exemplo o caso de Patrick Drahi, fundador e presidente da Altice, a quem a Comunidade Israelita de Lisboa e não a do Porto emitiu certificado de demonstração de tradição de pertença a uma comunidade sefardita de origem portuguesa.
No caso da certificação do oligarca russo Roman Abramovich, a CIP assegura que ter recebido o valor de € 250 "e nada mais", verba "que ninguém conseguirá refutar".
Embora vários dirigentes da CIP/CJP tenham sido alvos de buscas por contactos com conservatórias, a direção nega tais práticas, bem como alegados "desvios de dinheiros, impossíveis de realizar nesta organização" ou por serem "alegados co-responsáveis pela atividade de certificação do rabino-chefe", suspeitas que "resultaram em indiciações por tráfico de influência, fraude fiscal e branqueamento de capitais e falsificação de documentos".
O advogado João Almeida Garrett, membro da direção da CIP do Porto é o segundo arguido do processo e está proibido de contactar o rabino Litvak.
Este sábado a comunidade judaica avançou que que vai rebater “documentadamente ponto a ponto” os supostos crimes.