Sociedade

Semanário. “Metade dos professores põe em causa as suas escolhas”

Karine Tremblay Analista da Divisão de Políticas da OCDE, sobre a realidade portuguesa

Conselheira da OCDE, Karine Tremblay foi durante anos responsável pelo maior estudo internacional sobre professores e diretores escolares, realizado em 48 países. E é socorrendo-se dos muitos dados apurados no último Talis (Teaching and Learning International Survey 2018) que descreve uma profissão em crise em vários países ocidentais. Incluindo Portugal, que apresenta a segunda percentagem mais baixa de jovens a escolher cursos superiores de Educação — eram 4% do total de novos inscritos no ensino superior em 2009, quando a média da OCDE era o dobro. De acordo com o relatório Estado da Educação, elaborado pelo Conselho Nacional de Educação e divulgado este mês, nesse ano Portugal apresentou a percentagem mais baixa de diplomados em Educação da OCDE. E de todas as áreas de estudo, esta foi a que mais inscritos perdeu nos dez anos anteriores. O problema é que, ao longo da atual década, vão reformar-se 40% dos docentes que estavam a dar aulas em 2019, sendo necessário recrutar 34.500 novos professores. São 3400 a cada ano, quando o Ensino Superior está a diplomar cerca de 15 mil.

Portugal é apenas um dos países onde a falta de professores se pode tornar um problema. O que explica a menor procura por esta carreira?
Os fatores que estão a travar a vinda de mais candidatos para esta profissões resultam de uma combinação de elementos e que incluem a perceção por parte dos professores de que a sociedade não valoriza a sua profissão; salários inferiores aos auferidos por diplomados noutras áreas científicas; baixa atratividade, sobretudo entre os rapazes e muito ligada a condições precárias no início da carreira; uma complexidade crescente da profissão, não acompanhada de mais autonomia, liderança e confiança, que acabam por causar mais stress e frustração.

No caso dos salários, Portugal até tem uma situação melhor do que acontece na maioria dos países.
De acordo com os cálculos da OCDE, na maioria dos países o salário dos professores é, em média, inferior ao dos restantes trabalhadores com igual habilitação académica, apesar de subirem no caso dos docentes dos níveis de ensino mais altos. Portugal é um dos poucos países onde os salários são comparativamente mais altos entre esta classe profissional. Um professor do 3º ciclo ganha, em média, 1,33 vezes mais do que outro trabalhador diplomado. Parte da explicação reside no facto de os professores serem mais velhos e estarem colocados em escalões remuneratórios superiores face ao conjunto de diplomados, que se repartem pela generalidade das faixas etárias. Mas mesmo em relação aos salários em início de carreira e no fim, estes são superiores em Portugal face à média da OCDE e da União Europeia (já ajustados ao poder de compra em cada país). Só que as condições de carreira são apenas um dos condicionantes na escolha da profissão. Uma grande maioria sente-se atraída por fatores como exercer um serviço público e o impacto social do ensino.

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