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Sexualidade após o parto, dos mitos e “receios” à ajuda: “Ninguém gosta de programar as relações sexuais, mas pode ser a única alternativa”

A falta de respostas nos hospitais públicos, mas também a pandemia, que tornou “mais frequentes” as depressões após o parto, levaram à criação de uma consulta de sexualidade pós-parto no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Maria do Céu Santo, especialista em ginecologia e obstetrícia, e responsável pela consulta, explica como o parto pode afetar a sexualidade, como é que essas dificuldades podem ser superadas e os “mitos” e “tabus” que persistem. “Muitas mulheres acham que são as únicas a quem isto acontece. E isso faz com que não falem sobre o assunto”

JGI/Jamie Grill/Getty Images

Já havia necessidade de criar uma consulta de sexualidade após o parto, até porque as respostas são poucas e há apenas “meia dúzia de médicos a nível nacional com competência em sexologia clínica”, mas a pandemia veio tornar o assunto urgente. Segundo Maria do Céu Santo, especialista em ginecologia e obstetrícia, as depressões após o parto têm aumentado, desde logo porque as “mulheres têm menos apoio familiar” e há menos visitas nas maternidades.

Essa foi uma das razões que levou à criação da consulta no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, mas há mais. O parto afeta a sexualidade, pela “diminuição da líbido e do desejo”, e o aparecimento de dor durante as relações sexuais, mas há formas de o resolver. “No geral, queremos que primeiro surja o desejo ou a líbido, depois a excitação e, finalmente, o orgasmo. Mas, logo depois de ter um filho, é possível que as coisas não aconteçam por esta ordem”, diz a especialista, que, em entrevista ao Expresso, avisa também sobre os mitos que persistem nesta área. “Muitas mulheres acham que são as únicas a quem isto acontece. É importante frisar que praticamente todas passam por esta fase.”

O que justifica que a consulta tenha sido criada nesta altura?
Havia necessidade há já algum tempo, até porque não temos consulta de sexualidade no serviço de ginecologia. No entanto, com a pandemia, essa necessidade tornou-se ainda mais acentuada. Percebemos, por exemplo, que as depressões pós-parto — que aparecem, em geral, entre cinco a sete dias depois após o parto e duram, em média, três semanas — estavam a aumentar.