Sociedade

Morreu o ator Rogério Samora

O ator tinha voltado a ser internado esta segunda-feira. Morreu hoje, aos 62 anos

Morreu Rogério Samora, após cinco meses de internamento, na sequência de uma paragem cardiorrespiratória sofrida durante as gravações da novela “Amor Amor”.

Depois de um primeiro internamento nos cuidados intensivos do Hospital Amadora-Sintra, o ator - que esteve dois meses em coma - passou para uma unidade de cuidados continuados da ASFE Saúde, na freguesia da Encarnação, concelho de Mafra, tendo voltado esta segunda-feira ao Amadora-Sintra para ser observado.por causa de uma febre persistente.

Rogério Samora contava mais de 40 anos de carreira, com um percurso marcado pela participação em dezenas de telenovelas e outras produções televisivas, como "Nazaré" e "Mar Salgado", da SIC, "Flor do Mar" ou "Fascínios", da TVI, depois de se ter estreado em televisão, na RTP, em 1982, em "Vila Faia".

O percurso do ator teve, porém, início no teatro, na antiga Casa da Comédia, e apresenta alguns dos seus mais importantes papéis no cinema, em filmes de Fernando Lopes e de Manoel de Oliveira.

Nascido em Lisboa, em 28 de outubro de 1959, fez o curso de Teatro do Conservatório Nacional, e estreou-se no final da década de 1970, na peça "A Paixão Segundo Pier Paolo Pasolini", de René Kalisky, levada a cena na Casa da Comédia, sob a direção de Filipe La Féria. O desempenho valeu-lhe o seu primeiro prémio, em 1981, o de Ator Revelação, da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro.

Sob a direção de La Féria, Samora participou ainda em "A Marquesa de Sade", de Yukio Mishima, "A Ilha do Oriente", de Mário Cláudio, e em "Eva Perón", de Copi.

Trabalhou também com Carlos Avilez, diretor e fundador do Teatro Experimental de Cascais, onde se apresentou em peças como "Hamlet", de Shakespeare, e em "Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente", de Natália Correia.

O ator trabalhou com outros encenadores, como Fernanda Lapa, em "Medeia é bom rapaz", de Luís Riaza, "As Bacantes", de Eurípides, e em "Sétimo Céu", de Caryl Churchill, com Artur Ramos, em "A Castro", de António Ferreira, com Luís Miguel Cintra, em "Cimbelino", de Shakespeare, e com Solveig Nordlund, em "Traições", de Harold Pinter.

No cinema conta com mais de meia centena de títulos, desde "Le Soulier de Satin"/"O Sapato de Cetim" (1985), de Manoel de Oliveira, com quem também fez "Os Canibais" (1988), "A Caixa" (1994), "Palavra e Utopia" (2000), "Porto da Minha Infância" (2002), "Quinto Império" (2004) e "Singularidades de uma Rapariga Loira" (2009), além de "Party" (1996), que protagonizou com Michel Piccoli e Irene Papas.

No cinema trabalhou igualmente com realizadores como José Álvaro Morais, João Mário Grilo, João Botelho, Manuel Mozos, Miguel Gomes, António-Pedro Vasconcelos, Maria de Medeiros, Luís Filipe Rocha, Margarida Cardoso, Rosa Coutinho Cabral, José Fonseca e Costa, Joaquim Leitão, Raoul Ruiz e Jorge Cramez, em filmes como "O Bobo" (1987), "Aqui d'El-Rei" (1992), "Adão e Eva" (1995), "Sinais de Fogo" (1995), "Jaime" (1999), "A Falha" (2002), "A Corte do Norte" (2008) e "As Mil e Uma Noites" (2015).

O cineasta Fernando Lopes dirigiu-o em "O Delfim" (2002), adaptação do romance de José Cardoso Pires, em que contracenou com Alexandre Lencastre, desempenho que lhe valeu uma nomeação para o Globo de Ouro SIC/Caras de Melhor Ator (2003).

Ainda sob a direção do realizador de "Belarmino", participou também em "Matar Saudades" (1988), "98 Octanas" (2006) e "Os Sorrisos do Destino" (2009), nos quais voltou a contracenar com Alexandra Lencastre, de quem era amigo, e com atores como Laura Soveral, Teresa Madruga e Eunice Muñoz.

Em 2019, participou no filme "Amadeo", de Vicente Alves do Ó, com estreia prevista para o ano passado, adiada, entretanto, devido à pandemia.

Distinguido com vários prémios, Rogério Samora recebeu em 2010 o Golfinho de Ouro de carreira, do Festival Internacional de Cinema Festróia, de Troia.

Na altura, quando completava 30 anos de carreira, a diretora do certame, Fernanda Silva, justificou a atribuição, recordando que Rogério Samora tinha já interpretado mais de 150 personagens, entre filmes, séries e novelas.

O ator, com o músico Rodrigo Leão, participou também em várias sessões de poesia, nomeadamente no antigo bar Frágil, em Lisboa, confessando que, entre os autores que mais gostava de dizer, estavam Agostinho da Silva e José Agostinho Baptista.

Em 2020, num trabalho com a fotógrafa Margarida Dias, posou nu, no contexto do confinamento, para um calendário cujas vendas se destinavam a apoiar a Rede de Emergência Alimentar. O próprio ator partilhou várias fotografias da campanha, nas suas redes sociais, escrevendo: "Ajudar não pode parar".