A petroquímica reversa ainda não existe, mas Adélio Mendes já consegue vislumbrá-la a partir da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e dá-a mesmo como provável para depois de 2030. “É um conceito em que, em vez petróleo, se usa dióxido de carbono (C02) e hidrogénio renováveis para a produção de tintas, polímeros, combustíveis ou até medicamentos”, explica.
Depois de milhões de anos de fotossíntese, os vegetais deixaram de dar conta de tanto CO2. E por isso não faltam projetos de captura do excesso de gás que ameaça o clima na Terra. Até à data, as iniciativas têm incidido em zonas industriais com concentrações de CO2 até 20% (nas cidades a média é 0,04%). Em paralelo com estes projetos, começaram a ser pensadas as primeiras redes de distribuição de CO2 no norte da União Europeia.
“O consumo de energia dos novos processos é 1,5 a 2,8 vezes maior que o consumo de energia exigido pelos sistemas que algumas indústrias já usam para capturar CO2”, explica Patrícia Fortes, investigadora do Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade da Universidade Nova de Lisboa (CENSE).
O CO2 pode ser capturado por hidróxidos de potássio e sódio, ou óxido de cálcio, mas exige elevadas temperaturas para ser encaminhado para locais de armazenamento ou novas aplicações. “O desafio é gastar o mínimo de energia (na captura e extração do C02), não só por questões financeiras, mas também ambientais. Caso contrário, estamos a poluir enquanto tentamos despoluir”, explica Moisés Pinto, presidente do Centro de Recursos Naturais e Ambiente (CERENA) do Instituto Superior Técnico.
A neutralidade carbónica prevista para 2050 leva a crer que a captura e a transformação de CO2 hão de tornar-se atrativas — mais que não seja para a venda de licenças de emissão, que custam hoje €89 por tonelada. Fora das zonas industriais, a evolução vai demorar bastante mais. Moisés Pinto lembra que a plantação de árvores continua a compensar e Patrícia Fortes defende que a prioridade passa pela redução de emissões.
À falta de soluções mais eficientes para a transformação, prosseguem os projetos de armazenamento em rochas basálticas, que levam o CO2 ao estado sólido através da mineralização, ou em jazidas de gás e petróleo e zonas rochosas que o mantêm no estado gasoso. Os projetos-piloto não terão muito mais de 10 anos. “Pretende-se que este armazenamento dure centenas de anos, mas não se sabe bem a evolução que pode vir a ter”, conclui Leonardo Azevedo, vice-presidente do CERENA.