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VIH. “Tenho uma coisa no sangue que nem vejo, espero pela cura que me a tire aqui de dentro”: a história de Sofia, que não se chama assim

Descobriu que era seropositiva aos 24 anos, numa análise de rotina. Passaram apenas sete. O vírus apanhou-a quando arrancava para viver os primeiros sonhos, as viagens para bem longe, o trabalho lá fora. Chegou a dar-se por vencida: se é para morrer que seja feliz, sem tratamentos, sem amarras, sem amores. Hoje, medicada, com o VIH indetetável e intransmissível, até precisa de despertador para se lembrar do comprimido, apenas um. Mas mantém-se o estigma, o preconceito da sociedade que ela aceita e a faz esconder-se. Esta é uma história inquietante, feita sem rosto, no Dia Mundial de Luta contra a Sida, 40 anos depois do primeiro diagnóstico

Tinha 24 anos quando descobriu a seropositividade numa análise de rotina. Passaram apenas sete, mas foi tempo suficiente para aprender a viver com “o problema”, como Sofia sempre lhe chama. O vírus apanhou-a numa altura em que arrancava para viver os primeiros sonhos, as viagens para bem longe da civilização, o trabalho lá fora. Chegou a dar-se por vencida: se é para morrer que seja feliz, sem tratamentos, sem amarras, sem amores. Passou a viver em urgência, tudo era para ontem, o tempo é finito.

Mas o crescimento chamou-a à razão e à medicação – um comprimido pequenino por dia -, que de tão banalizada já precisa de despertador para não falhar. Porque é fácil esquecer quando se vive com uma doença crónica, saudável, sem sintomas, atualmente indetetável no seu sangue e que, por isso, sem o risco de a transmitir a mais ninguém.

Só o estigma a recorda do VIH, o preconceito da sociedade que ela aceita e a faz esconder-se. Esta entrevista foi realizada por telefone, de um número não identificado, e ela não se chama mesmo Sofia. Mas esta é mesmo a sua vida, por ela contada, positiva em todos os sentidos.

"Tenho 31 anos. Recebi o diagnóstico com 24, em 2014, numa análise de rotina, que fazia sempre com o médico de família. Era muito nova e, pelo que me disse a Dra. Diva Trigo [infecciologista que a segue no Hospital Fernando Fonseca, na Amadora], das mais novas do serviço.