Sociedade

COP26: Primeiro-ministro britânico admite que resta "muito por fazer nos próximos anos". Greta Thunberg resume conferência a "blá, blá, blá"

As reações à COP26 não foram as mais otimistas, algumas organizações e delegados escolheram ver o proverbial "copo meio cheio" mas muitos ativistas estão zangados com o que consideram ser uma grande inação das maiores potências mundiais em reduzir de facto a utilização de combustíveis fósseis

Sean Gallup/Getty Images

"O verdadeiro trabalho continua fora dessas salas. E nunca, jamais, desistiremos", disse Greta Thunberg, a fundadora do movimento greve climática estudantil, numa mensagem divulgada no Twitter, a propósito do fim da COP26, após duas semanas de trabalhos e um dia depois do previsto.

A jovem ativista sueca já tinha advertido que classificar o acordo climático como "pequenos passos na direção certa", "fazer algum progresso", ou "ganhar gradualmente" era o "equivalente a perder".

A 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) adotou formalmente uma declaração final com uma alteração de última hora proposta pela Índia que suaviza o apelo ao fim do uso de carvão.

A proposta foi feita pelo ministro do Ambiente indiano, Bhupender Yadav, que no plenário de encerramento pediu para mudar a formulação de um parágrafo em que se defendia o fim progressivo do uso de carvão para produção de energia sem medidas de redução de emissões.

A Índia quis substituir o fim progressivo - "phase-out" - por uma redução progressiva - "phase down" -, uma proposta que foi aceite com manifestações de desagrado de várias delegações.

Quis ainda acrescentar ao parágrafo o "apoio aos países mais pobres e vulneráveis em linha com as suas circunstâncias nacionais".

Para que qualquer transição energética seja viável é preciso ajudar os países a fazê-la, e para isso é preciso muito mais fundos do que aqueles que foram prometidos nesta conferência. Essa é uma das principais queixas apresentadas pelas delegações de alguns países que ainda precisam bastante de utilizar métodos poluentes de energia para se conseguirem desenvolver-se.

O delegado da Índia fez uma declaração em nome do bloco básico de países - Brasil, África do Sul, Índia e China. Os quatro países dizem que mostraram “flexibilidade máxima” para chegar a um resultado que seja aceitável para todos, e que os países ricos devem cumprir suas promessas.

“Estamos dececionados com a promessa de 100 mil milhões de dólares que permanece pendente. Apelo a todos os países para que tornem esta meta uma realidade no próximo ano", disse, também neste sentido, Patricia Espinosa, secretária executiva da Conferência Climática das Nações Unidas, sob cuja chancela a COP26 decorreu.

Brandon Wu, diretor de campanhas na ActionAid USA, escreveu um texto onde se foca no problema de culpar a Índia pela “diluição” dos objetivos. Segundo Wu, o texto final “ao concentrar-se apenas no carvão e ao não incluir petróleo e gás, tem um impacto desproporcional em certos países em desenvolvimento como a China e a Índia”. A Índia disse nas negociações que todos os combustíveis fósseis devem ser eliminados gradualmente, de maneira equitativa, mas os Estados Unidos não aceitaram porque “se recusam a fechar as infraestruturas que extraem combustíveis fósseis em casa ou a cancelar as licenças para prospeção de petróleo”.

O documento aprovado este sábado, que ficará conhecido como Pacto Climático de Glasgow, preserva, por outro lado, a ambição do Acordo de Paris, alcançado em 2015, de conter o aumento da temperatura global em 1,5ºC (graus celsius) acima dos níveis médios da era pré-industrial.

O documento, que sofreu alterações até ao último momento, diz também ser necessário reduzir as emissões de dióxido de carbono em 45% até 2030, em relação a 2010.

Reconhece ainda que limitar o aquecimento global a 1,5ºC exige "reduções rápidas, profundas e sustentadas das emissões globais de gases com efeito de estufa, incluindo a redução das emissões globais de dióxido de carbono em 45% até 2030 em relação ao nível de 2010 e para zero por volta de meados do século, bem como reduções profundas de outros gases com efeito de estufa".

O Pacto Climático de Glasgow salienta a urgência de reforçar a ambição e a ação em relação à mitigação, adaptação e financiamento nesta "década crítica" para colmatar as lacunas na implementação dos objetivos do Acordo de Paris, e pede aos países em falta que apresentem até novembro do próximo ano as suas contribuições para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.

Os presentes em Glasgow instaram também, segundo o documento aprovado, os países desenvolvidos a "pelo menos duplicarem" o financiamento climático para a adaptação às alterações climáticas dos países mais pobres e apela aos países mais ricos e instituições financeiras para "acelerarem o alinhamento das suas atividades de financiamento com os objetivos do Acordo de Paris".

PM britânico admite que resta "muito por fazer nos próximos anos"

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, considerou "histórico" o acordo adotado em Glasgow na cimeira do clima das Nações Unidas, mas admite que resta "muito por fazer nos próximos anos" para travar as alterações climáticas.

"Ainda há muito mais a fazer nos próximos anos. Mas o acordo de hoje é um grande passo em frente e, crucialmente, temos o primeiro acordo internacional para reduzir o carvão e um roteiro para limitar o aquecimento global a 1,5 graus" celsius, disse Boris Johnson num comunicado.

O chefe do governo britânico disse esperar que a 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), realizada sob presidência britânica, seja recordada "como o início do fim das alterações climáticas".

Decisores políticos e milhares de especialistas e ativistas reuniram-se ao longo de duas semanas para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 e aumentar o financiamento para ajudar países afetados a enfrentar a crise climática.