Passa pouco das 9 horas e no bloco operatório do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, cirurgiões, anestesistas, enfermeiros e instrumentistas estão a postos para mais uma cirurgia. O paciente é um homem de 66 anos a quem foi diagnosticado um tumor na próstata de alto risco. Vai ser submetido a uma prostatectomia radical, para retirar a próstata, e uma linfadenectomia bilateral, para remover os gânglios para onde a doença metastiza primeiro.
Está deitado em posição horizontal sobre um colchão de areia, que irá assumir a forma do seu corpo e impedir que deslize para o chão quando a marquesa operatória for inclinada até a cabeça ficar bem abaixo do nível dos pés, na posição de Trendelenburg, assim chamada em homenagem a um cirurgião alemão do século XIX. Com a ajuda de um telemóvel, um interno de anestesia mede os 29° de inclinação. Parece pouco, mas pode fazer muita diferença: permite afastar o intestino delgado do local da cirurgia, a cavidade pélvica, mas pode trazer complicações pulmonares e cardiovasculares, razão pela qual os anestesistas não tiram os olhos do monitor.