Chove copiosamente em Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel. Abrigados da chuva, virados para o mar e debaixo de um alpendre, estão dezenas de pescadores a preparar os iscos para, passada a tempestade, voltarem ao mar. As mãos, besuntadas de sal e com um intenso cheiro a peixe, enchem centenas de anzóis com cavala.
Floriano Tavares anda pelo porto de pesca da vila, o maior da ilha, desde as quatro da manhã. É o mais ágil. Entre tarefas, levanta-se e volta a sentar-se em segundos. Há dias acabou de virar a tão esperada esquina dos 18 anos. “Ajoelhei-me até, fiquei safo da escola, nunca gostei da escola, nunca.” Diz que desde que começou a pandemia nunca mais teve contacto com os professores. “Eles faziam de tudo para eu estar amarrado a alguma coisa mas eu nunca quis, nunca liguei para os professores, nunca voltei à escola”, garante. Tem o “quinto ano atrasado” e nunca quis ser outra coisa que não pescador.