Sociedade

Sexta-feira negra nos hospitais. Torres Vedras em dificuldades, Santa Maria alarga capacidade

Bombeiros dizem que morreu uma pessoa dentro de uma ambulância, à espera para entrar num hospital, não revelando qual. Santa Maria diz que ainda tem capacidade. Planos de contingência dos hospitais no máximo.

PATRICIA DE MELO MOREIRA

A pressão de quatro dias com casos acima dos dez mil por dia fez-se sentir ontem à noite com grande força nos hospitais, em particular em alguns da região de Lisboa, como no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e em Torres Vedras. Durante a noite foram sendo conhecidas imagens de filas de ambulâncias à espera de entrar nestes hospitais, mas há outros que também estão no limite. A situação a agravar-se já levou o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, a revelar que houve um óbito numa ambulância, não referindo no entanto em qual.

O Hospital de Santa Maria admite que "houve pressão assistencial", mas nega ter-se tratado de uma "situação de caos". "Perante a grande pressão na urgência dedicada a doentes respiratórios e nos internamentos, o Centro Hospitalar de Lisboa Norte alargou o plano de contingência Covid, o que prova não só que não está em rotura", como houve "capacidade de adaptação do seu plano às necessidades assistenciais", informou fonte da administração, à Lusa.

Para fazer face à necessidade de assistência não só a Lisboa como a outras zonas do país, nas próximas horas o hospital irá reforçar a capacidade de resposta da urgência criando mais uma unidade para cerca de 10 doentes, "pelo que os atuais postos de atendimento/boxes/quartos da urgência autónoma passarão de 33 para 51 durante a próxima semana", responde o hospital.

A pressão nos hospitais é coincidente com os dados da pandemia. Este sábado os dados da Direcção Geral da Saúde mostram que foram de novo batidos recordes de número de mortos e de número de novos casos.

mensagem que o Santa Maria quer passar este sábado é contrastante com o que têm dito os bombeiros. Disse Jaime Marta Soares: "Recebi uma informação de um doente que morreu dentro de uma ambulância. Isso é garantido”, avançou à Lusa. Ao problema para estes doentes acresce o facto de estas ambulâncias estarem a ficar retidas nos hospitais durante mais tempo, aumentando os tempos de espera para socorro a outros casos, até porque, dadas as exigências de segurança, têm de proceder a desinfeções entre serviços. Marta Soares refere que quando chegam aos hospitais, "não há macas, e muitas vezes eles estão horas nas nossas macas, alguns dentro das próprias ambulâncias, a ponto de já terem morrido cidadãos dentro das próprias ambulâncias". Outra situação que muitas vezes acontece

Muitas vezes as nossas macas ficam lá retidas, nos corredores, nas urgências. Esses hospitais servem-se do nosso equipamento para garantir o resguardo dos doentes, já que não têm capacidade com camas, nem com macas" para fazer a receção, descreveu.

Torres Vedras no vermelho

Além do surto no próprio hospital, aquele concelho conheceu ainda um surto num lar de idosos que já conta com 96 casos positivos

O surto no hospital já chegou aos 157 casos (134 ativos, 12 recuperados e 11 mortos), registando, nos últimos dois dias, 15 novas infeções, de acordo com a lusa. Muitos estão a recuperar em casa.

Além deste surto, que tem dificultado a resposta do próprio hospital, há um surto também de grandes dimensões no Lar de Nossa Senhora do Carmo, na Ordasqueira que já conta com 96 infetados. Para fazer face aos surtos em lares naquele concelho, que já vai em três, a Câmara Municipal de Torres Vedras "apela à população e aos funcionários municipais que possam colaborar em algumas tarefas nestes lares", afirmou à agência Lusa Marta Rodrigues, responsável do Serviço Municipal de Proteção Civil, e pede ainda o reforço das brigadas de intervenção rápida.

Esta situação levou a que ontem à noite houvesse um concentrar de ambulâncias à porta do hospital. Em entrevista à Lusa, a administradora do hospital reconheceu que "foi muito complicada" a noite de sexta-feira. "A situação esteve muito complicada, porque não havia lotação e tivemos de criar mais uma enfermaria com 21 camas", aumentando assim o internamento de 45 para 66 camas, disse Elsa Baião, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Oeste (CHO).

A mesma responsável asseverou que a situação este sábado de manhã já era mais calma apesar de "a urgência continuar lotada". Para Torres Vedras "tem sido complicado transferir doentes para outros hospitais", assim como contratar mais profissionais de saúde, nomeadamente enfermeiros.