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Barragens de Portugal: foram construídas 65 em 20 anos, mas nem todas funcionam

No período de 20 anos, Portugal construiu 65 novas grandes barragens e já não há grandes rios livres de barreiras, qualquer que seja a sua dimensão. Mas nem todas funcionam

Rita Pereira Carvalho (texto) Carlos Esteves (infografia) Cristiano Salgado (ilustração)

Uma gota nasce no ponto mais alto da serra de Montesinho e percorre 120 quilómetros para chegar à foz do rio Douro, onde se junta ao mar. Pelo meio, atravessa a fronteira e deixa Espanha para trás. Esta era a rotina do rio Sabor até 2016, ano em que deixou de ser um rio livre e passou a ser o palco da “mãe de todas as barragens”, como disse em 2009 o então ministro da Economia Manuel Pinho, durante a apresentação do projeto da barragem do Baixo Sabor. Há quatro anos, Portugal perdeu o seu último rio de grandes dimensões que corria livremente desde a nascente até ao último ponto sem ser interrompido por uma barreira. Hoje, não há rios livres a correr por terras lusas e o cenário em Espanha repete-se. A nível mundial, os números são diferentes de zero, mas são, ainda assim, baixos: dos 246 rios considerados de maiores dimensões, com mais de mil quilómetros de extensão, apenas 91 não têm barragens. Em percentagem, só 37% dos grandes rios têm liberdade de circulação e apenas 23% fluem ininterruptamente até ao mar, segundo o estudo “Mapping the world’s free-flowing rivers”, publicado no ano passado pela revista científica “Nature”.

Esta não é uma questão consensual e as barragens são amadas por uns e odiadas por outros. Independentemente do peso de cada prato da balança, a construção de barreiras, quer para garantir a produção de energia hidroelétrica, quer para assegurar a rega das plantações próximas, não tem parado, mesmo com os avisos dos ambientalistas. Só os rios portugueses, avançou o Ministério do Ambiente e da Ação Climática, seguram 263 grandes barragens. E as grandes barragens são aquelas que têm mais de 15 metros de altura. Destas, 65 foram construídas desde 2000. Para o futuro, “encontram-se em construção as grandes barragens hidrelétricas do Tâmega — Daivões, Gouvães, Alto Tâmega — concessionada à Iberdrola”, diz o ministério tutelado por João Pedro Matos Fernandes. Estas barragens estão incluídas no Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico, o plano apresentado pelo antigo primeiro-ministro José Sócrates, assim como a barragem do Baixo Sabor ou do Fridão, com esta última a não conseguir luz verde para avançar.