A Associação Nacional de Proprietários Rurais - Gestão Cinegética e Biodiversidade (conhecida pela sigla ANPC) confirmou à TSF ter vendido 550 selos de caça maior à Quinta da Torre Bela. A fatura, a que o Expresso teve acesso, e que tem a data de 23 de janeiro, comprova a compra pela proprietária da Torre Bela à ANPC de 500 selos para abater veados e 50 selos para javalis. No último fim de semana foram abatidos 540 veados e javalis naquela propriedade da Azambuja.
Ao Expresso, uma fonte da Quinta da Torre Bela garante no entanto que nenhum destes 550 selos adquiridos em janeiro à ANPC - que é uma das três organizações de caça de primeiro nível - foram usados na caçada levada a cabo por 16 caçadores espanhóis naquela que é uma das maiores propriedades muradas da Europa.
O Expresso sabe que foram cedidos 40 selos para abater veados e 65 para javalis, todos eles adquiridos antes de janeiro, dos proprietários da Torre Bela a Avelino Carvalho, a quem a quinta cedeu os direitos de exploração de caça. E eventualmente deste para os espanhóis do Monteros de La Cabra, que organizaram a caçada. O que perfaz um total de 105 selos, um número muito inferior aos 540 veados e javalis abatidos pelos caçadores espanhóis.
Para complicar as contas, uma outra fonte revela que há 270 selos colocados nos animais abatidos naquela montaria que teriam sido vendidos pela ANPC. Dado que a Torre Bela agora nega.
A GNR e o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que estiveram a fazer diligências junto dos proprietários da Torre Bela esta terça-feira, estão a investigar onde e como os caçadores espanhóis adquiriram os selos, cujos canhotos foram entregues às autoridades.
O Expresso sabe ainda que as carcaças dos animais abatidos na Azambuja foram enviadas para Badajoz.
Esta montaria em que morreram 540 animais terá sido a única realizada nesta temporada de caça na Quinta da Torre Bela. Uma "matança" que foi criticada unanimemente - desde o ministro da Ambiente, José Matos Fernandes, até às várias associações de caçadores. Uma das medidas avançadas pelo ministro e ICNF foi declarar a proibição de caça naquela propriedade da Azambuja. O caso está nas mãos do Ministério Público.