Muito antes de imaginar que o seu futuro seria a desenhar joias — hoje é dona e criadora da Vanleles Diamonds, com ateliê em Mayfair, em Londres —, Vânia Leles decide apresentar-se num reconhecido ateliê, em Lisboa. Na altura o design de interiores era a sua paixão. A entrevista não se demora porque, assim que a vê, a dona do ateliê responde-lhe que não vai pôr na casa dos clientes uma preta, que iria lá para roubar. “Quando ela me disse isto, levantei-me e saí. Fartei-me de chorar”, recorda a guineense de 43 anos, que alguns anos depois estaria a trabalhar na Graff Diamonds, em Nova Iorque, passando-lhe pelas mãos pedras preciosas avaliadas em 5 milhões de dólares (€4,2 milhões).
Vânia Leles escusa-se a referir o nome da pessoa em causa, uma destacada decoradora lisboeta. “Mais tarde conheci os filhos dela em Londres, que morreriam de vergonha se soubessem disto”, justifica. Radicada há 20 anos em Londres, onde vive casada com um dinamarquês e os dois filhos em comum, Vânia Leles não tem dúvidas de que Portugal é mais racista do que Inglaterra. “Não conseguiria ter um negócio de joias em Portugal, não se vê um funcionário negro nas joalharias”, defende. Nesta matéria, o país que mais bem a acolhe são os Estados Unidos, onde vive durante três anos, inicialmente a trabalhar como modelo e, mais tarde, a estudar no Gemological Institute of America, e ao serviço de grandes marcas de diamantes, como a Graff Diamonds, a DeBeers e a Sotheby’s.