Carlos Barros foi o primeiro a chegar. “Estava em casa, soube do que ia acontecer pela televisão, vim a correr. Nunca fui a nenhuma manifestação, mas nos últimos tempos tenho dado mais atenção à política e não concordo com o que está a acontecer”, explica ao Expresso o jovem de 20 anos, estudante, trabalhador, “parte da comunidade LGBT”, brasileiro no papel, português no coração. Recusa-se a falar do problema em abstracto: aponta o dedo ao discurso de André Ventura, à intolerância que demonstra, às medidas que o líder do Chega propõe - como a castração química. “Nada daquilo faz sentido, estamos na Europa, no século XXI...”
O jovem garante que André Ventura está a contribuir para o ressurgir da extrema-direita em Portugal. “A vigília que fizeram em frente ao SOS Racismo, e as ameaças por e-mail a deputadas e ativistas... Aquilo deixa-me tão triste e afetam a minha relação com o país. Comecei a pensar: será que estou confortável a viver cá?”.
Carlos começa a ganhar conforto e a vencer a timidez quando chegam membros da Frente Unitária Antifascista (FUA), a associação que organizou este domingo a manifestação antifascista, na Praça Luís de Camões, em Lisboa. O evento, que também aconteceu no Porto, teve o objetivo de ripostar contra os acontecimentos das últimas semanas: dez cidadãos portugueses foram ameaçados de morte por grupos nacionais de extrema-direita (Resistência Nacional e Nova Ordem de Avis). “Não passarão”, letras negras em fundo branco em harmonia, é a primeira tarja - e a primeira mensagem que o grupo mostra.
Todos os membros da FUA têm máscaras covid-19, mas alguns usam máscaras ou cachecóis para resguardar a cara. Não falam com jornalistas, com duas excepções: “Estou a usar máscara para salvaguardar a minha identidade. O meu nome não está na lista e não quero que vá lá parar”, diz uma jovem em palavras rápidas e incisivas, vestida de negro, bandeira vermelha “ANTIFA” às costas, 28 anos, portuguesa e acabada de chegar do Reino Unido, onde trabalhou até ao início da pandemia.