O aviso do ministro do Ambiente, lançado na segunda-feira na RTP, para que os habitantes das aldeias em zona de risco de cheias no Baixo Mondego comecem a pensar em mudar de sítio foi alvo de críticas por parte da vereação do PSD, na primeira reunião de executivo municipal após as inundações em Montemor-o-Velho. “Sabem que estão numa zona que sempre teve cheias”, disse Matos Fernandes, alertando que as aldeias submersas pela passagem das depressões 'Elsa' e 'Fabien' “vão ter de ser abandonadas mais dia menos dia”.
Numa altura em que os prejuízos ainda estão por contabilizar, a futura deslocalização dos habitantes que tiveram de deixar as suas casas devido às inundações foi um dos assuntos em debate na reunião de executivo desta quinta-feira. De acordo com Matos Fernandes, não é possível aumentar a capacidade de contenção do caudal do rio Mondego para níveis superiores aos existentes, advertindo que a “natureza tem sempre razão”.
Apesar de, a longo prazo, o presidente da Câmara de Montemor-o-Velho considerar que o ministro não deixa de ter razão, o socialista Emílio Torrão já afirmou que a solução não é fácil de implementar no imediato, até pelo apego natural das populações às suas casas e propriedades. Mais crítica revelou-se, contudo, a reação dos vereadores da oposição do PSD, que sublinharam que as declarações de Matos Fernandes foram “desajustadas e pecaram por falta de sensibilidade”.
Ao Expresso, Alexandre Leal, vereador e líder da concelhia do PSD de Montemor-o-Velho, afirmou que a solução avançada pelo ministro do Ambiente surgiu “numa hora negra”, quando as pessoas ainda abaladas pela catástrofe acabavam de retornar às suas casas e haveres. “Eu sei como as populações que foram deslocadas se sentem vulneráveis nesta altura, por ter acompanhado no terreno os bombeiros locais”, conta Alexandre Leal, membro da direção dos Bombeiros Voluntários de Montemor-o-Velho, alertando que “a vila e as suas aldeias”, não são uma localidade “do terceiro mundo, mas uma terra com vida, comércio de proximidade, associações e ligações familiares e afetivas”.
O vereador defende que, nesta altura, para quem já assistiu às graves cheias de 2001 ou às de 2006, mais importante do que anunciar deslocações, “o que o Governo deveria dizer é o que irá fazer de imediato para evitar que as aldeias voltem a submergir neste inverno”, que acaba de começar. “Quando se fala em mudar pessoas é preciso, antes de tudo, apresentar soluções para onde irão, que destino e compensações serão dadas ao seu património e que alternativa de vida terão”, sublinha Alexandre Leal.
Embora refira não ter neste momento dados que lhe permitam dizer se as inundações poderiam ter sido evitadas, o vereador social-democrata afiança “ser um facto que não tem havido investimento suficiente nos diques” que ruíram e que o ministro da Ambiente já prometeu serão reparados em dois meses. “Não basta reparar os dois diques, mas dotá-los de capacidade superior para suportarem o volume de água”, refere, sublinhando ser “inconcebível” que a principal linha ferroviária do país, a do norte, tenha sido fechada à circulação por causa das inundações. “Onde está o investimento anunciado para a modernização da via férrea”, questiona o líder concelhio do PSD.